Em busca de Deus
Queria um homem ser asceta. Disse, uma noite, o seu desejo:
__ Para mim, veio, enfim, o instante de abandonar a minha casa, e de
ir à procura de Deus...Ah, quem fez que, por tanto tempo, me
detivesse aqui, na Terra, entre enganosas ilusões?
Deus, então, murmurou:
__ Fui eu.
Mas o homem não lhe ouviu a voz. E indagou:
__ Onde estás, dize, ó Tu que, por tanto tempo, mofaste de mim?
Perto dele a mulher repousava tranquilamente na cama, tendo nos
braços, quase adormecido, um bebê.
Tornou a voz a lhe dizer:
__ Deus, a quem buscas, é ali que está..
Mas o homem não ouviu, de novo.
O bebê, sonhando, chorou, e apertou-se, enoveladinho, ao calor
do seio materno.
Deus ordenou:
__ Volta, insensato! Não deixes nunca a tua casa!
Mas não o ouviu o homem, ainda. Deus suspirou tristonho, e disse:
__ Por quê os meus servos acreditam buscar-me, quando mais se
afastam de mim?
Obs: Este texto é do poeta indiano Rabindranath Tagore e faz parte
do meu livro em fase de revisão: Pedro, me dá um coco.