Inconclusivo
E não adianta você tentar me descrever. Sou feito de linhas sem interpretação alguma, e nas entre-linhas repousa essa minha bagunça.
Supostamente organizada.
Esse caos em ordem perfeita.
Drasticamente belo.
Não adianta querer me entender.
Aqui dentro só eu sei o lugar de cada coisa e o trabalho que dá carregar em alguns momentos esse sorriso nos lábios. Tem vezes que chega a pesar, e as lágrimas se tornam inevitáveis.
Viram rotina.
Costuro à noite os reparos do dia.
Remendo os retalhos de uma esperança estampada, sobre um tecido borrado pelas incertezas.
Repenso meus caminhos.
Revejo minha vida.
Vomito minhas inseguranças em baldes que eu mesmo recolho enquanto ninguém ver. Enquanto ninguém nota minha nudez exposta aos olhos áridos.
Eu sou assim!
Feito de percalços. E minhas nuances variam de acordo com o tempo, com o clima.
Sou bagagem excessiva em extravios.
Sou sentimentalismo desmedido.
Carência exacerbada.
Feito de reticências, mas é na composição das minhas vírgulas que se percebem meus pontos finais.
Que se extirpam minhas interrogações.
É no instante de uma nota ou outra que componho as canções que canto à vida.
E me decifro.
Me descubro.
Me encontro.
Me conheço e me moldo.
É em meio aos meus dissabores que sou lapidado.
Não sou de querer-por-querer, de fazer-por-fazer, de ser-por-estar.
Não tenho uma definição acertada, sou alguém indefinido.
Inconcluído.
Sou um alguém em fase de um auto-conhecimento [incompreendido] eterno.
E por mais que descubra coisas ao meu respeito, percebo que nada sei.
Que eu também, estou me conhecendo!
Sou um alguém -ainda- inconclusivo.