O automóvel de nossas vidas...
Era uma vez um homem. Todos os dias ele saia de manhã bem cedo pra trabalhar, seis e meia, tinha bom cargo, boas relações, bom ciclo de amizades.
Era apaixonado por sua Brasília vermelha ano 79, mas o tempo passara, e este mesmo, que, impiedosamente, vem como algoz cobrador bater a sua porta para exigir o que se deve, dá o seu recado.
Dr.Oiretsa Pereira entendera que era momento de trocar seu fiel companheiro de longa data, aposentar seu amigo, que por tempos estivera consigo em momentos tristes, felizes, dramáticos, trágicos. Nunca o abandonara. Porém, o amor sempre falou mais alto, e Dr Oiretsa ficou com seu inseparável amigo. Certo dia, seu amigo, que por tempos fora tão guerreiro, começara a apresentar, finalmente, seus primeiros sinais de cansaço, de fraqueza, fruto de sua idade e suas incansáveis lutas ao longo dos tempos e estradas. Já não conseguia ser mais tão forte e veloz como quando estava novo, já não era mais tão confortável, começou a adoecer e adoecer em meio a tantas idas e vindas, a falhar, a se render ao tempo, já não conseguia superar aos jovens e robustos possantes mais novos, começou a enferrujar. Então, Dr. Oiretsa, que precisava sair às seis e meia, certo dia tentara ligar seu companheiro que não respondia, Dr Oiretsa descobrira por meio de conselhos, que um simples empurrão resolvia a situação. Então, a cada dia que saia de manhã, um empurrãozinho... novo dia, novo empurrão... mais um dia... mais um empurrão... Dr Oiretsa não percebera, no entanto, que a cada dia empurrando seu, outrora, inseparável fiel escudeiro, a distancia empurrando pra que ele funcionasse precisava ser cada vez maior... e maior... e maior... até o dia em que não adiantava mais a distância que se empurrasse, seu companheiro nunca mais voltaria a funcionar. Levou-o, assim, a um especialista, mas já era tarde demais. O diagnóstico era o pior possível. A máquina jamais voltaria a funcionar novamente, pois apresentara problema irreversível. Dr Oiretsa, não acreditando, chorou demoradamente, e se manteve triste por muitos dias. Nunca mais tirou se amigo da garagem. Novos amigos vieram, com acessórios e apetrechos novos e modernos, porém nenhum deles jamais fora capaz de ensinar, em meio a tantos passeios, o maior e mais importante valor dessa vida...
Cuide bem do que ou de quem você gosta.
Deixar coisas importantes a serem feitas, pra depois, pode tornar um caso ou uma situação irreversíveis.
É uma dádiva poder amar, e em alguns casos, algo que pode acontecer com toda intensidade, uma única vez na vida, e em apenas uma vida.
Se tem algo pra consertar, faça logo antes que o tempo passe e seja tarde demais.