Doces instintos

Belinha tinha uma cadelinha de estimação. Uma linda cachorrinha que encontrara perdida na rua, quando estava indo para a escola. A menina se encantou pelo animalzinho assim que o viu. Soltou a mão de sua mãe e correu para pegar a bichinha. Tratou logo de batizá-la: Catita!A partir daquele momento tornaram-se amigas inseparáveis. Não havia nada que Belinha fizesse sem a participação de Catita. Somente, quando a menina ia para a escola , a bichinha podia aproveitar para dormir e repor as energias, sabia que quando sua dona voltasse precisaria estar disposta para as novas aventuras.

Esta seria uma de muitas histórias que envolvem uma criança com o seu animalzinho de estimação, se não fosse por uma razão. Catita sabia falar. Isso mesmo, mas só Belinha entendia, e não fazia questão de guardar segredo. Contava para todo mundo, só que ninguém acreditava. Todos achavam que era um exagero da menina. Belinha nem ligava para isso, levavam horas conversando e quando perguntavam com quem estava falando, ela respondia irritada: “Com minha amiga, não está vendo?”

Um dia, Catita começou a explicar para a Belinha a diferença entre humanos e cães. Belinha ficava sisuda, não queria perder nada. Catita dizia que era comum as mães de sua espécie se separarem logo dos seus filhotes, porque cada um nascia com uma missão e já sabiam disso antes mesmo do nascimento. Diferentemente dos humanos que ficam na dependência da mãe por um longo período. Belinha quis saber como Catita fora parar naquela rua, quando se conheceram. Catita não sabia explicar exatamente como, mas alguma coisa tocou dentro do seu coração, encaminhando-a para estar ali, naquele momento. “É assim que acontece, Belinha! A gente não sabe como, só sabe sentir e assim, somos guiados pelo instinto”. A menina perguntou então, se os humanos, também nascem com um destino reservado. E a cachorrinha continuou explicando: “Sim claro, a diferença é que vocês levam muito tempo para descobrir isso, e tem gente que sequer consegue uma pista do caminho que dever seguir. Nós não, temos um faro apurado, somos sensíveis ao ambiente, ao toque, aprendemos a ler os olhos das pessoas, a enxergar a alma, a ouvir o coração e como nosso tempo de vida é muito mais curto do que o de vocês, humanos, as coisas acabam acontecendo mais rápido com a gente.

Belinha ficava cada vez mais encantada com as histórias de sua amiga. Agora ela queria saber por que alguns cãezinhos ficavam perdidos na rua correndo e latindo atrás dos carros que passavam. A cadelinha explicou que esses cães tornaram-se "humanos demais", por isso agiam dessa maneira. Belinha não entendeu nada, mas a bichinha tornou a explicar: “ Um dia, Belinha, você vai entender exatamente o que quero dizer, quando você crescer vai encontrar muitos humanos agindo dessa forma, esses cães correm atrás do carro sem saber o motivo, somente pelo prazer de correr, para mostrar que sabem latir, que são velozes...pura perda de tempo, foram humanizados, aprenderam a correr atrás de coisas que nem sabem para o que serve.

Belinha não entendeu muito bem o que Catita queria dizer, mas confiava na amiga e sabia que um dia passaria a entender. Catita acabou adormecendo, depois de tanta conversa,e Belinha acariciando o pelo da amiga, antes de dormir, pediu a Deus que não deixasse a Catita se contaminar com os humanos e dizia que queria também poder enxergar como os cães a alma das pessoas para aprender a amar de verdade o quanto antes.Abraçou a cadelinha e juntas adormeceram.

Luciana Netto
Enviado por Luciana Netto em 15/01/2013
Código do texto: T4085848
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.