Epitáfio Estrelar

E de repente eu acordei. Aqui onde estou não tenho horário para dormir ou acordar, aonde estou não existe dia ou noite. Dentro da minha espaçonave eu sou livre, sou livre dentro de uma prisão. Não sei a quanto tempo estou no espaço, mas é mais do que eu consigo me lembrar. Aqui eu estou completamente sozinho, desliguei o meu rádio e não tenho nenhum contato com o controle de solo, aqui eu sou o último da minha espécie. A Terra é apenas um distante ponto azul, cada vez menor e mais distante.

Não tenho um rumo certo, apenas vagarei pelo espaço até que a falta de água, comida ou oxigênio me mate. Talvez a paz e a tranquilidade me mate, ou talvez eu tenha que me matar por não aguentar a minha própria presença. Não importa aonde eu vá, ainda haverá eu mesmo, nunca conseguirei me livrar de mim mesmo, daquilo que fui, daquilo que sou e daquilo que serei, das minhas angústias, dos meus medos, da minha dor e dos demônios que eu mesmo criei e alimentei dentro de mim. De qualquer maneira meus dias estão contados.

Quando comecei essa viagem, não tinha um destino certo, mas eis que vejo no céu a estrela mais brilhante de todas, um pontinho luminoso que sempre que o vejo enche meus olhos de lágrimas e meu coração de esperança. Eu sei que essa estrela está longe, e que por mais que eu siga na sua direção eu jamais estarei perto dessa estrela, morrerei muito antes que essa estrela se torne algo maior que um ponto brilhante, mas é a maior e a mais brilhante estrela, por isso eu dei o seu nome para ela. Por mais que essa seja a estrela mais bonita e brilhante, nunca será tão bonita e brilhante como você, mas de alguma maneira quando eu a vejo me lembro de você, e é a única alegria que tenho aqui no espaço. Os cientistas deram como nome para ela um monte de números e letras, mas eu a chamo pelo seu nome. Por alguns minutos, eu perco o medo e em quanto não tiver medo, não estarei sozinho.

Quando eu morrer, ninguém saberá, ninguém derramará lágrimas. Nenhum verme devorará o meu corpo e ele não apodrecerá, pois não há o ar necessário para que eu apodreça. Apenas serei um corpo vagando aleatoriamente, inconscientemente e eternamente pelo espaço. Mas a morte não me incomoda, não tenho medo de morrer e até me sinto bem aqui, aonde não há gravidade para me puxar para baixo. Aqui sou livre porque não tenho medo da morte, são outros medos que me aprisionam, mas espero que a estrela que tenha o seu nome, que a memória que eu tenho de você me livre de todos os medos e me torne um homem livre.

Eu sou apenas um homem impuro e pecador, carrego muitos erros nas costas, mas estou aqui no espaço para me limpar, o vento solar e as energias cósmicas irão purificar minha alma e minha mente, para que quando eu morrer eu me torne uma estrela. Sim, um dia quando você olhar para o céu, virá uma estrela, a estrela que na verdade é você. Meu corpo jazerá em algum lugar entre você e a estrela e essa estrela serei eu. Sim, eu sei que eu disse que a estrela era você, mas eu sou você e o que você vê no céu sou eu e o meu amor fará a estrela brilhar mais forte, só para você.

E com isso me despeço para a vida, e continuo minha jornada pelo espaço, em direção a uma estrela no céu.

Hanttu Monkeymann
Enviado por Hanttu Monkeymann em 15/01/2013
Reeditado em 24/10/2024
Código do texto: T4085497
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