Apenas...

Apenas...

A vontade de ser, de parecer, é apenas um desejo que cria uma artificialidade. A busca pelo novo não existe, há, somente, um ideal propagado e esse responde o que determina os desmandos da existência. Nada passa incólume à ditadura da forma e, é nessa busca, que seres humanos vivem a farsa da falta da verdade. E o que é essa verdade? No dia em que ela for ecoada, a vida que conhecemos será extinta. Percebe-se, então, que essa vida foi gerada apenas para a existência. Perguntarão: existir não é o propósito? Quem sabe! A resposta para tal pergunta nos foi omitida, por isso, nos contentamos com o simples fato de estar aqui. Estamos e só; vivemos e pronto!

O mundo nos veste com máscaras e determina qual a melhor forma de viver. O filho imita o pai, que imita o avô, e, assim, uma continuação é imposta. A natureza não quer novidades, ela prefere a cópia e a evolução gradativa e lenta, para que assim, haja tempo de não se distanciar do início. O início e o fim são a mesma coisa. Querer se libertar das imposições da vida e de verdades distorcidas - pois a pureza plena não existe - é cair em novos moldes já fabricados. Somos feitos em série, com manual de vida e tempo de duração. Portanto, tudo passa a ser uma rotina enorme, na qual não se pode romper com o que já vem dito e muitas vezes repetido.

A vontade de mudar não passa de uma vontade. Não há mudanças e sim continuidade! A reprodução é exemplo de que somos previsíveis! A natureza criou suas regras, determinou a vida e, nós, a obedecemos, pois somos incapazes de mudar a linha da existência. Existir tornou-se apenas uma vontade de ser. Queremos ser, buscamos ver, mas há uma nebulosidade para perpetuar o homem entre o início e o seu fim.

O início da vida não nos pertence e o final é obrigatório. Entre essas duas ditaduras, deveria haver uma desordem, uma anomia, mas, o mundo e os seus próprios desejos fabricam vontades coletivas, colocando, assim, amarras e véus para que a natureza continue sua repetição. Escapar da forma é cair em uma nova forma e, tudo então, passa a ser uma farsa, na qual contribuímos com a execução da vida.

Mário Paternostro