Arrumando o armário

Domingo escolhi ficar em casa colocando milhares de idéias e afazeres em ordem.

E então eu acordo cedo e faxino a casa, arrasto daqui pra lá, de lá pra cá... ao som de sambas antigos.

Acabo de ajeitar a sala e parto para os armários do quarto.

Em meio a arrumação penso na vida, nas coisas, no tudo.

O erro de alguns é achar que uma mulher quando arruma o armário está "arrumando o armário".

Ledo engano.

Ou que o umbigo está apenas "esquentando" no fogão.

Isso é para amadoras. Para mulheres que estão satisfeitas com uma vida medíocre. Eu não. Enquanto estou na arrumação penso na vida, em como conduzir situações diversas.

As mulheres sempre foram grandes pensadoras.

Mesmo aquelas que estavam ali servindo seus maridos: cozinhando, limpando, costurando um botão... mesmo as mais ingênuas estavam sempre soprando ao pé do ouvido algumas verdades... aconselhando.

Faço parte de um clã (um seleto grupo, digamos assim para ser mais humilde) de mulheres que enquanto arruma os armários, pensa. Reflete.

Não há uma foto que passe despercebida numa faxina bem dada.

Reviro todo o passado, me reinvento, evoluo, crio regras para mim mesma, quebro algumas outras.

Me reescrevo.

Camponesas eram chamadas de bruxas. Foram perseguidas pela igreja, morreram queimadas porque pensavam, tinham poder de persuasão, voz ativa e capacidade para liderar.

Utilizavam o tempo livre para analisar. Ouviam muito e cruzavam fatos e informações umas com as outras (vejam bem... não era fofoca não, tá... era troca de informações), entendiam de anatomia, de curas medicinais através de plantas, eram exímias parteiras e ajudavam umas as outras.

E aí que super me identifico.

Existem vários tipos de sabedoria.

Eu por exemplo consigo limpar a casa, pensar minha vida no trabalho, remexer o caldeirão no fogão, soprar ideias no ouvido do meu marido, tudo ao mesmo tempo.

Morreria queimada fácil.

Quem me vê acha que estou fazendo nada.

É que existem coisas que só as mulheres sentem, só as mulheres enxergam.

E ás vezes fazer o nada é fazer alguma coisa.

E foi o que eu fiz no final de semana.

Estou tão enigmática...

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 14/01/2013
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