On Ne Peut
É, eu realmente não tenho nada. Não tenho aquele grupo de amigos fantásticos, não tenho amigos do passado, não tenho o meu desenho favorito de infância. Acho que me perdi e não sei voltar. Tenho certeza que sim.
Eu acabei acabando, acabando com tudo, porque não sei mesmo quem sou. Não sei se sou o suficiente, não sei se és suficientemente bom pra minha insuficiência. Não sei nem ao menos se tenho alguma capacidade de me reencontrar.
Me chamam para almoçar, digo que já estou indo. Não sei se sabem, mas meu vazio não é de fome, é vazio de características predominantes, vazio de personalidade. Me dizem que tenho muita, mas eu não a encontro. Só vejo vestígios de coisas, vestígios de características que no fim não deram certo. Não vejo nada concreto, nada pregado em mim. Só vejo o que eu poderia ser, mas não sou.
Daí eu me pergunto: será que eu faço parte disso? Honestamente acho que não. Fazer de conta é uma coisa, ter realmente é outra. Se tenho relacionamentos lindos, amáveis? Faço que tenho. Não tenho não, foi tudo uma pura utopia, que menti pra mim mesma que existia.
Deixei de viver minha vida para viver a vida de quem estava ao meu redor, pra suprir a falta de vida dos outros. Mas pergunto-me: alguém deixou de viver suas conquistas/derrotas por mim?Não, mesmo por que isso é incorreto. Fiz o errado, perdi minha postura, perdi minha decisão, minha sabedoria. Só sei que amo Chico, e Björk, e Cássia, e Cartola.
É complicado. Perguntei pra minha mãe se eu era uma criança apegada a algum desenho, algum personagem, alguma coisa interessante, sabe o que ela me disse? Que não. Sempre fui desapegada, nunca me senti emocionalmente abalada com nada, acabei vivendo uma vida sem emoções. Acho que tive medo de tentar. Acho que é a falta da carne.
Daí agora eu penso: será mesmo que posso ficar contigo, será mesmo que posso fazer um desenho na minha pele, será mesmo que posso fazer esse curso na universidade? Pode ser que eu enjoe. É tão comum...