A VIDA COMO ELA É

A VIDA COMO ELA É...

Sem ter necessidade de dizer o porquê, visito o Hospital do Câncer em São Paulo, cujo verdadeiro nome é A.C. Camargo, pelo menos uma vez por mês. Tenho visto coisas muito tristes. Porém, já estou me acostumando. Foi difícil, mas estou.

Quando estudante, fui o filho em quem meus saudosos pais, mais investiram na educação escolar. E, tinham um objetivo. Desejavam ter um filho médico. Daí, o fato de eu ter estudado num dos melhores colégios de São Paulo. O Arquidiocesano. Jamais quis contrariá-los, deixando o tempo passar, estudando o suficiente para manter meu nível de estudante que sempre tive, um pouco acima da média, sendo considerado de regular para bom aluno. Só um ponto me preocupava. Não gostava de ver doentes, ver sangue, detestava entrar em hospital.

Assim, ao término do colegial, por três vezes, menos na primeira, mesmo estando bem preparado, não consegui entrar em escola de medicina. Creio que a mão divina entrou em ação, apesar de contrariar o desejo do “seu” Tonico e da Dona Adelina. Não tinha eu a mínima vocação para ser médico. Tanto assim que, logo na primeira tentativa, ingressei na faculdade de direito. Mas, o curso num bom colégio, o preparatório para a medicina, não nego, foram de suma importância na minha educação, pela visão geral que obtive, e ainda mantenho, como bagagem cultural.

Acho que, aqui, é o melhor momento para dar um conselho, a quem possa interessar. Não deixem de ler. A leitura, seja de jornal, seja romance, seja de que espécie de livro for, dá ao cidadão, às vezes sem ele perceber, uma condição intelectual de grande relevância, obtendo ele, além do conhecimento, um bom vocabulário. E, principalmente para o idoso, espanta o temido Mal de Alzheimer! Até palavras cruzadas são ótimas!

A cultura sempre deu ao cidadão uma vantagem muito grande, seja em que aspecto for, em relação aos menos dela providos. Conselho dado.

Voltando ao tema, ainda bem que meus pais absorveram rapidamente minha mudança de futura formação. Entre as frustradas tentativas no vestibular de medicina, e a entrada na faculdade de direito, prestei um concurso na Prefeitura de São Bernardo do Campo, onde logrei obter a primeira colocação. Com o sucesso no vestibular, logo consegui uma transferência para a Secretaria Jurídica. Daí o início de minha trajetória na Municipalidade bernardense, até a aposentadoria.

Apesar de não ter dado a alegria a meus pais, felizmente, um dos meus filhos resgatou essa dívida que eu tinha para com eles, mesmo após não estarem mais nesse mundo.

Hoje, como o destino nos reserva certas surpresas, conforme já afirmei, frequento um dos hospitais mais tristes que existe. Há gente com todo tipo de alvo da terrível doença. Cabeça, garganta, perna e todos aqueles locais que não são visíveis, em pessoas de toda idade. Porém, o que mais impressiona são as crianças. Não consigo nem olhá-las, de tanta compaixão que essa imagem me provoca.

Aliás, outro conselho. Aqueles que estão com alguma desilusão na vida, quando sentirem que a sua existência não está, de certa forma valendo a pena, dêem um pulinho àquele hospital. Passem algumas horas lá. Verão o que é sofrimento, tanto dos doentes quanto de seus familiares. Olhem para trás, há coisas piores.

Sinto muito, no início de um novo ano, quando todos estão com a esperança de um novo tempo, de novas conquistas, ter eu a idéia de

escrever algo tão triste! Mas, o que fazer? Veio-me esse tema na cabeça! Trata-se de um aspecto, conforme estou tendo a oportunidade de conhecer, que não cabe a quem se dedica a escrever, evitar.

Paciência! Desculpem-me aqueles que não gostaram! Prometo-lhes voltar aos temas mais amenos!

PS- Escrita em 08/05/2010

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 13/01/2013
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