A MALUCA COM NOME DE FLOR
- O que a senhora disse?
- É isto mesmo, temos muito que aprender. Principalmente você que se acha o sabichão.
Após estas palavras fiquei boquiaberto com sua audácia, mas não discuti. Concordei com a cabeça.
Dona Margarida sabia ser mais crítica do que eu, não tive coragem de bater de frente, até porque no fundo ela estava certa como sempre.
Margarida tinha esquizofrenia, mas ainda sim era menos louca do que eu. Questionei o tempo todo enquanto a observava qual seria o motivo de tamanho desespero que a deixou daquela forma. Margarida não queria acordar pro mundo externo. Ao mesmo tempo aquilo foi me hipnotizando de uma forma ímpar. Como era bom apenas viver no seu mundo. A sociedade era doente, tanto pra ela quanto pra mim.
Sua rotina era sombria; acordava, escovava os dentes, tomava todos aqueles medicamentos, depois ia se alimentar. Mal sabia comer sem se sujar toda, mas ela sorria. Estava feliz! Talvez se não fosse pela loucura ela jamais daria aquele sorriso. – Sorriso não, gargalhada! Era grandiosa, borrada, torta... Abundante!
A única coisa que a acalmava era música.
- MÚSICA PARA OS MEUS OUVIDOS, VAMOS, MÚSICA!
Ela gritava!
A música com toda sua grandiosidade tem um poder imenso de tocar a alma de todos os seres.
As ondas sonoras que chegavam aos nossos ouvidos fazia-nos esquecer das diferenças, e todos dançávamos juntos, os médicos, os loucos, eu.
Naquele momento eu desisti de querer investigar a sua história. Não me interessava mais quem ela era. O que de fato me importava é o que ela é.
E aquela frase dita no começo: “Temos muito que aprender”. Caiu como uma luva.
Em pouquíssimo tempo aprendi que loucura é não sentir, é viver como vivemos seguindo está rotina diabólica de trabalho, casa, casa, trabalho.
Margarida vivia feito uma louca, mas Margarida vivia.