É preciso um outro olhar
É PRECISO UM OUTRO OLHAR
Nos dias de hoje, é comum ouvirmos as pessoas dizerem que os alunos não querem nada com a escola, que os professores já não ensinam com prazer e que a educação passa por uma crise.
O fato é que as três afirmações acima são verdadeiras. E o que mais me entristece, caro leitor, é que os jovens não fazem nada para mudar essa situação. Isso já se transformou em piada: “os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem”. O pior é que nem fingem mais. A verdade está aí escancarada, para quem quiser ver. Vemos, hoje, os jovens desestimulados, sem atitudes. Vemos, hoje, escolas tristes, sem alegria, com professores também tristes, faltando-lhes aquele entusiasmo, aquele prazer em adentrar a sala de aula e cumprimentar seus alunos com um sorriso aberto... As relações humanas estão atropeladas pela pressa, pela necessidade de estar em várias instituições de ensino e pelo acúmulo de tarefas. Já se absorveu a máxima de que vale mais ter do que ser neste mundo de um incrível capitalismo consumista.
E os jovens, cada vez mais, assumem uma atitude patética diante desses fatos. Por que são assim? Na minha percepção e nos contatos que tenho com eles, imagino que a escola hoje já não dá alegria, não fala de coisas que eles querem ouvir, não acompanhou a velocidade das transformações, e o professor que deveria criar mecanismos para tornar a sala de aula um lugar prazeroso, um espaço de discussões, de debate de idéias, fez da escola um lugar triste, um espaço sem perspectivas.
Um outro olhar é necessário. Um olhar penetrante que toque o coração dos educandos. Eles precisam sair do estado de apatia em que se encontram. É preciso que lhes ensine a olhar: olhar com os olhos do coração. O que se vê são jovens apatetados, anestesiados, apagados, conformados com essa situação. O mestre precisa ensinar o aluno a olhar. Olhar os colegas, olhar a sala de aula, olhar a escola, olhar ao seu redor. A partir desse novo olhar, buscar o essencial. E só vê o essencial quem olha com os olhos do espírito, porque o essencial é invisível aos olhos do rosto, como disse o Pequeno Príncipe de Antoine Exupéry.
A propósito desta reflexão, conto para você, leitor amigo, um fato ocorrido numa Farmácia. Estava lá, quando chegou uma senhora para comprar não sei o quê. Foi atendida por um garoto. Não é que essa senhora era sua professora?!... Comprou o medicamento e ficou um pouco por ali. O garoto, muito vaidoso, disse ao colega:
- É minha professora!
- Ela ensina que matéria? Perguntou o colega.
- Não sei.
Houve uma admiração geral. Eu fiquei boquiaberta. Então o colega fez nova pergunta:
- E o nome dela tu sabe?
- Não. Não sei.
A professora que olhava alguns produtos de limpeza, ao ouvir esse diálogo, voltou-se para o garoto e lhe perguntou:
- Você é meu aluno? Qual o seu nome?
- Mateus.
- Ah! Eu ensino Biologia.
Riram todos. Mas eu que estava sentada à parte, não achei nenhuma graça, apenas disse quando a professora saiu:
- Já está terminando o ano letivo e vocês não se conhecem? Você nem sabe a disciplina que a professora leciona? E ela nem sabia que era sua professora?!
O que faltou durante as aulas de Biologia? Penso que os conteúdos foram passados. Mas de que maneira? Por que não chamou a atenção do aluno? O conhecimento objetivado é necessário, ao lado da formação ética, da afetividade, da consciência crítica, do olhar para dentro de si. É preciso ensinar o educando a olhar. Imagino que as relações humanas entre professor x aluno estão comprometidas. Buscar o conhecimento, repito, é importante, mas são tão importantes, os gestos, as palavras ditas com afeição, o olhar. Deve haver harmonia entre a relação do professor com o aluno, para que haja a ponte entre o transcendental e o humano.
Como estava educando esse mestre? Será que educar é chegar à sala de aula e depositar conhecimento na cabeça dos alunos como se deposita dinheiro no Banco? O aluno era apenas um número?
Definitivamente, a educação vai mal. Está faltando o zelo, o rigor, o afeto na comunicação da sala de aula. Está faltando Arte para Educar. E educar com arte é colocar uma dose de amor, de carinho, junto à competência, à responsabilidade e ao compromisso. É fundamental o entusiasmo com a profissão, para que o mestre conheça seus alunos, os chame pelo nome; os alunos conheçam seus professores. Um e outro pedindo amor incondicional.