ROUBAMOS NOSSOS SONHOS
Roubamos nossos sonhos
A chuva caiu sutilmente na rua empoeirada levantando uma densa fumaça e lavando o calçamento, fazendo sentir o aroma de terra molhada que liberou o perfume da natureza. O toque arguto dessas essências misteriosas se faz sentir por toda a parte em cena contraste com um mar calmo e nuvens escuras carregadas de tempestades... Passei pelo cemitério, onde quatro séculos de mortos se amontoam, entre historias de amor, sonhos, aqueles que ainda sonhamos, mas... Contentamo-nos com sobras parcas, em um mundo tão saturado de inveja venenosa, intolerância e impotência. Agora, no meio de um engarrafamento quilométrico de veículos, o som ensurdecedor dos motores, buzinas que se misturam com os insultos da impaciência, assim, divaguei sonolento e sorumbático no passado, subindo ladeiras íngremes pavimentadas com pedras, passando por velho parapeitos e trilhos do bonde indo de encontro à Praça João Lisboa, rodeada de arvores, pássaros e gente feliz. Fazendo nascer dentro de mim um saudosismo acólito, o sentimento de história incompreensível com a própria razão. É que quando buscamos a verdade há uma química a ser processada ou: algo do irreal é necessário para que possamos fecundar o real.
Que mundo! Que gente. Como podemos conviver sem convergir. Que palco nos espera para a próxima cena. Que não seja trágica, ou será que perecemos pelo ato ou pelo medo. Faz tempos que questiono o que está acontecendo em nosso mundo, e às vezes penso que nos foram enviados lobos em pele de ovelhas. Uma logica a ser apreciada pelo que está acontecendo, ou: seria normal um divertimento lúgubre como sair de motocicleta pelas ruas de São Paulo tendo como alvo pessoas simples, comuns, pelo simples fato de tornar as manchetes dos jornais um cenário de sangue. Para que. O que traria de beneficio a mortandade de quem nem conhece os seus carrascos. Eu não sei, eles nem se preocupam em executar um parente ou conhecido, porque eles não são desse mundo, nem sabem de onde vieram ou para onde vão... Mas nós, que nascemos sob o signo do amor, do respeito absoluto ao nosso Deus, que temos a graça e felicidade de sermos Cristãos, não acreditamos no que está acontecendo. Faz uns dois dias que um desses espectros assassinou a sangue frio um jovem gravida de cujo filho no ventre foi tirado com vida. Que historia esse pai vai contar a este filho quando ele perguntar pela mãe. E nós, por aqui, que estivemos tão perto do paraíso em nossa juventude nos anos 60, 70 e 80. O que vamos dizer a nos mesmos, calar ante o medo e o terror que nos visita a cada novo dia, tentar plantar a semente o amor em corações estéreis e fecundar com as nossas lágrimas da esperança, ou largar tudo no conformismo e admitir, que roubamos os nossos próprios sonhos.
Airton Gondim Feitosa