CARNAVAL EM 1.970
Em 1.970 o desfile das escolas de samba acontecia na Av. São João, no centro da cidade de São Paulo e grandes escolas de São Paulo por lá apresentavam seus componentes em maravilhosas evoluções.
O único canal de TV que falava algo sobre o desfile era a TV Cultura e algumas emissoras de rádios, e nós assistíamos com muita curiosidade na nossa TV Videobel em preto e branco.
Existia uma brincadeira que nós adorávamos que consistia em jogar água nas pessoas através de multicoloridas bisnagas de plástico e nem sempre era compreendida por alguns adultos e lembro-me de surras memoráveis que mamãe aplicava com suas temidas varas de marmelo porque algum vizinho não adepto da brincadeira vinha reclamar que estava todo molhado e eu tinha sido o autor da brincadeira. Apanhava e voltava a espirrar água nos vizinhos e corria gargalhando, afinal era Carnaval e valia tudo, até duas ou três surras no mesmo dia.
Após o desfile das escolas de samba o resultado era anunciado sempre sobre grandes protestos das escolas rivais e os Jornais estampavam a Escola Campeã sempre dando grande destaque aos minúsculos trajes de belas passistas.
Nós garotos da época adorávamos as fotos e ficávamos vários minutos em frente da banca de jornal do nosso bairro apreciando os jornais a beleza que era o Carnaval e imaginando: Que Maravilha que é este nosso País! Quantas mulheres lindas e seminuas, até que o jornaleiro acabava com nossa curiosidade, recolhendo o jornal e pedindo gentilmente para irmos embora.
No sábado posterior ao Carnaval nós moradores da zona leste da cidade de São Paulo ganhávamos um maravilhoso presente que era um desfile da escola de samba Nenê de Vila Matilde pelas ruas do bairro da Vila Matilde somente para os moradores e curiosos.
Neste dia, Lalá que morava na Vila Esperança fazia questão de levar-nos, para assistir o desfile do muro da sua residência. Era lindo ver todos os muros das residências repletos de pessoas com confetes e serpentinas para arremessar nos integrantes da escola de samba.
Os primeiros tambores, tamborins, cuícas, reco-recos, eram ouvidos, era hora de ajeitar-se o mais confortavelmente em cima do muro e ficar olhando o final da rua onde a Comissão de frente já ensaiava os primeiros passos e lá vinha a fantástica e imponente Escola de Samba Nenê da Vila Matilde, que naquele ano tinha sido campeã do Carnaval Paulistano
O coração disparava e imediatamente colocava todos as serpentinas e confetes ao lado para arremessar nos componentes da escola.
Os olhares encantadores, os passos perfeitos do Mestre Sala e da Porta-Bandeira emocionava a todos e os primeiros confetes e serpentinas eram arremessados e sempre eram agradecidos com gestos dos integrantes de abaixar a cabeça e curvar o corpo para frente. Um bailar encantador, maravilhoso, sublime.
As alas iam apresentando-se com perfeita harmonia e víamos bem pertinho mulheres maravilhosas em minúsculos trajes e homens em cima de enormes carros alegóricos, Ala das baianas e nossa alma ia enchendo-se de Felicidade. Muitos gritos eram ouvidos e saudações e palmas misturavam-se com o maravilhoso som da bateria da Nenê.
O Senhor Nenê, que era presidente da escola fazia questão de colocar todos os componentes da escola de samba pelas ruas estreitas da Vila Matilde e vinha sempre na frente agradecendo a todos a nossa presença com gestos, curvando o corpo para frente e tirando o chapéu em agradecimento. Gesto maravilhoso e inesquecível.
A apresentação da passagem da Escola de Samba pela rua da casa do Lalá, na Vila Matilde foi o que guardei e ainda guardo com tanto carinho de todos os Carnavais já vividos ao longo dos meus 56 anos de idade. Viva o Carnaval! Salve todas as Escolas de Samba! Em especial a Nenê da Vila Matilde. Obrigado a todos por proporcionar grandes momentos na minha vida! Muito lindo! Belas recordações do carnavais Paulistano de outrora.