A Lagoa

O lugar era quente, mais ou menos 36,5°C. Era muito embaçado, parecia que uma neblina pairava constantemente ali. Era uma lagoa, feia, mas sempre a visitávamos, por zilhões de motivos. Podia ser pela morte de alguém, por uma doença, até por felicidade de vez em quando. Às vezes não tinha motivo nenhum, era tanta coisa junta que culminavam na visita da lagoa. Eu, particularmente, tinha o costume de visita-la sempre que me olhava no espelho, aquela sensação de me enxergar por fora, olhar em meus próprios olhos e perguntar: Quem, diabos, é essa pessoa? Outras vezes era simplesmente por assistir um filme, por compaixão, pelo vazio. Era uma lagoazinha pequena, que se localiza em nossos olhos, a água é salgada, assim como a do mar. A bolsinha onde as lágrimas ficavam era sensível, essa lagoa guardava dor, memórias, ansiedades de ser aceito, vontade de fazer parte, vontade de não errar, coisas tão impossíveis que ela foi secando. Hoje em dia as rochas calcárias tomaram o lugar e em volta o solo é meio ácido. Tão ácido que derreteram qualquer perspectiva de interação humana.

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