O Canteiro da Avenida Brasil

O pai, traficante de drogas, morreu assassinado pela polícia; a mãe, dependente de cocaína, vive jogada pelas ruas de uma favela qualquer; e ele, com 9 anos e já viciado em crack, veio a falecer ontem na Av. Brasil em decorrência de atropelamento, ao fugir da repressão aos usuários da droga no local.

Coisas desse tipo devem acontecer quase que todo dia por esse Brasil afora ou nas cidades grandes e não tão maravilhosas como a nossa. Configurando-se a degradação da instituição “família”, nos moldes em que aprendemos a considerá-la. E quando vemos os dependentes de crack atravessando a Av. Brasil aos montes, com os mesmos reflexos que teriam os cães, fugindo a perseguições com maior orientação em cleanliness (limpeza) que outra coisa, sentimo-nos impotentes e fustigados talvez por um sentimento de auto-comiseração. Pela possibilidade, ainda que remota, de que ali estivesse um de nós.

Ou jogados pelas calçadas dos canteiros centrais, totalmente maltrapilhos, carregando tralhas que não sabem bem pra quê... Achamos difícil de entender. Mas seguimos em frente. Temos as nossas vidas. E esses não são problemas que provocamos.

É possível que de degenerações familiares dessa natureza nenhum país do mundo esteja a salvo. Devem acontecer até mesmo em sociedades sob regimes totalitários, como acreditamos que sejam os da China, de Cuba, da Coréia do Norte, etc. Seria preciso que estivéssemos lá para comprovar. Entretanto, nos regimes democráticos, onde prevalece a doutrina capitalista, até pela maior proximidade com o Brasil, somos levados a imaginar que esses fracassos sociais com certeza são observados.

Uma vez alguém me falou que se eu fosse pai na Rússia, a educação do meu filho seria atribuição do Estado. Ele seria criado, educado e treinado para servir com a maior eficiência possível à nação. Algo assim como um produto industrial, numa comparação meio forçada. Em países como o nosso, se um pai reunir condições básicas para a educação de seu filho, ele poderá servir com inegável eficiência à nação. Sem que nele identifiquemos quaisquer traços de uma produção industrial. O pai será aplaudido, o filho também, o sucesso será comemorado e continuaremos em frente. No entanto, se o chefe da família (que pode também ser a mãe) estiver próximo ou abaixo da linha de pobreza, sua prole terá grandes chances de ter o destino daquele menino que atravessou ontem a Av. Brasil para morrer. Não haverá aplausos nem motivos para comemorações. Haverá no máximo lamentações. Mas seguiremos em frente do mesmo jeito. Porque não saberemos o que fazer para reverter situações da mesma natureza que estejam prestes a acontecer. Então deixemos como está. Alguém deve propor ou achar uma solução.

Não se trata de identificar o melhor tipo de educação, de defender o sistema político com mais chances de dar certo no país, a filosofia menos ruim. O que interessa é acharmos um jeito de molhar a plantinha quando ela estiver querendo murchar.

Rio, 11/01/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 11/01/2013
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