OBJETOS GUARDAM MEMÓRIA
Ao abrir o armário da cozinha, ele me olhou. Um olhar insistente, daqueles que não conseguimos nos livrar com facilidade.
Não resisti e o aconcheguei em minhas mãos, senti que ele estava carente de afeto, saudoso do tempo que era muito útil.
Como estava sozinha, pude conversar com ele. Sem receio de parecer alucinada. Sentei-me, e o coloquei à minha frente. E me dispus a ouví-lo telepaticamente. A cada episódio que me contava, a cumplicidade, o amor e uma dedicação sem igual eram descritos.
Ele me pediu desculpas pelas lágrimas que arrancou de minha alma, pelas lembranças, alegres, tristes, que cada cena desenhada por ele descrevia.
Quando por fim, ele sentiu que havia contado o bastante e desafogado de sua alma toda energia que represava, ele silenciou.
Sobre mim, lançou novamente aquele olhar insistente e me perguntou: Por que, você me trouxe para tão distante daquela vila pequena?
Eu respondi: para não ficar longe de você, de suas histórias que são também minhas. Para usufruir de suas energias saturadas de amor, que foram depositadas, por cada mão que te tocou, e pelas quais você se deixou tocar.
Ele respondeu-me: pois, quando você regressar, não me deixe aqui sozinho, preciso muito de seu olhar atento, ele conserva vivi a minha memória.
Eu então lhe disse: nem precisa pedir isso. Quando toco em você, sinto um pouco das mãos de cada um daqueles que se foram e a quem tanto amo.
Em seguida, o guardei com carinho. Antes de fechar o armário, ainda o olhei mais uma vez. Agora o açucareiro azul, que foi um dia de meus avós, me sorria feliz!
(Foto da autora, esse açucareiro está na família desde 1926)
Ao abrir o armário da cozinha, ele me olhou. Um olhar insistente, daqueles que não conseguimos nos livrar com facilidade.
Não resisti e o aconcheguei em minhas mãos, senti que ele estava carente de afeto, saudoso do tempo que era muito útil.
Como estava sozinha, pude conversar com ele. Sem receio de parecer alucinada. Sentei-me, e o coloquei à minha frente. E me dispus a ouví-lo telepaticamente. A cada episódio que me contava, a cumplicidade, o amor e uma dedicação sem igual eram descritos.
Ele me pediu desculpas pelas lágrimas que arrancou de minha alma, pelas lembranças, alegres, tristes, que cada cena desenhada por ele descrevia.
Quando por fim, ele sentiu que havia contado o bastante e desafogado de sua alma toda energia que represava, ele silenciou.
Sobre mim, lançou novamente aquele olhar insistente e me perguntou: Por que, você me trouxe para tão distante daquela vila pequena?
Eu respondi: para não ficar longe de você, de suas histórias que são também minhas. Para usufruir de suas energias saturadas de amor, que foram depositadas, por cada mão que te tocou, e pelas quais você se deixou tocar.
Ele respondeu-me: pois, quando você regressar, não me deixe aqui sozinho, preciso muito de seu olhar atento, ele conserva vivi a minha memória.
Eu então lhe disse: nem precisa pedir isso. Quando toco em você, sinto um pouco das mãos de cada um daqueles que se foram e a quem tanto amo.
Em seguida, o guardei com carinho. Antes de fechar o armário, ainda o olhei mais uma vez. Agora o açucareiro azul, que foi um dia de meus avós, me sorria feliz!
(Foto da autora, esse açucareiro está na família desde 1926)