Braços, seios e bumbuns
Para os europeus, na época do Descobrimento, o que menos provocava tesão nos homens era o seio feminino. Por outro lado, um pezinho entrevisto inadvertidamente, um cotovelo entremostrado, eram de fazer ferver a temperatura. Acreditem, havia mais erotismo em uma donzela coberta de cima a baixo, com rendas e tafetás, do que numa improvável Luz del Fuego da época. Por isso, as mulheres mais fascinantes desfilavam com sensuais botinas e cobriam as delicadas mãos com luvas.
Isso não mudou muito até o século 19. Assim se entende o conto de Machado de Assis, “Uns braços”, no qual um jovem fica louco ao vislumbrar os braços de dona Inácia. Era somente aonde podia ir a curiosidade erótica masculina.
Na década de 1960, jovens tinham de folhear às escondidas revistas de naturismo, nas quais apareciam fotos de saudáveis matronas em pelo. Ou então se contentarem com as fotos de vedetes de shorts nas páginas da Revista do Rádio.
.Ultimamente, ao lado da fácil exposição do nudismo e da pornografia em revistas e na internet, está acontecendo uma supervalorização da mulher vegetal. Mulher vegetal é a mulher seios e bumbum. Preciso especificar melhor? Não importa sua feminilidade, seu rosto, a graça de seus gestos; sua personalidade reside na “comissão de frente” e na “porta dos fundos”. Sem eles, esse tipo de mulher não existe. E se orgulha de ser classificada como mulher jaca, mulher melancia, mulher melão e outras frutas menos votadas.
Na pena dos poetas parnasianos seriam conhecidas como “Vênus calipígias”; hoje, o pessoal vai mesmo de “popuzudas”.
Não me surpreenderia se alguns pais esperançosos batizassem suas filhas como Nádegas de Oliveira, Popô de Almeida ou Lordose da Silva.
Não, leitora, não estou me queixando, também sou brasileiro e sei do que o brasileiro gosta. Mas por que exagerar no que a natureza nos deu? Nos filmes denominados pornochanchadas da década de 1970 podiam se ver lindas mulheres com seios normais. Hoje parece que isso é vergonhoso; quem não tiver passado pelas mãos do cirurgião e acrescentado alguns mililitros de silicone não é digna de aparecer em capas ou ensaios de revistas.
Como disse o médico Dráusio Varella: daqui a alguns anos vamos ter velhas de peito grande e homens de pênis ereto, mas que não vão se lembrar para que servem.
E quem sabe, com tanta exposição de corpos, vai chegar o dia em que não haverá nada mais chato e ultrapassado do que revista de mulher nua, e então voltaremos aos tempos em que o cara se pelava por uns braços.