A corrupção é nossa!
Ninguém ignora que corrupção, desvio de verbas e outras artimanhas tornaram-se uma instituição mundial. Como bom patriota, advogo sua primazia ao nosso querido país. No entanto, tais atividades continuam na informalidade, sem um órgão que determine quais as suas condições e seus limites.
Na última semana, houve uma grande marcha para reivindicação dos direitos dos LCS (Ladrões, Corruptos e Simpatizantes). Os participantes usavam belas camisas customizadas (adquiridas com verba superfaturada, é claro), com o tema: A corrupção é nossa. Estimativa de três milhões de participantes. Pela contagem da Polícia, que compareceu ao local para proteger os bolsos dos espectadores, foram somente dois milhões, novecentos e setenta mil. Se você não tomou conhecimento foi porque a elite conservadora e a imprensa venal boicotaram a notícia.
Pressionado por isso, um deputado encaminhou ao Congresso projeto para descriminalizar a corrupção, permitindo que ocupantes de cargos no governo e na iniciativa privada possam reforçar seus minguados orçamentos. O principal benefício do projeto será a grande eliminação de trabalho inútil na justiça e nas CPI, que ocupam o tempo de seus insignes participantes com processos que geralmente acabam em “pizza”, como se diz popularmente.
A Associação Brasileira de Imprensa já emitiu nota de protesto contra o projeto, argumentando que isso tornará despovoadas de notícias as páginas de jornais e revistas, ocasionando o desemprego de funcionários e jornalistas.
O projeto define os que podem se valer do benefício, dependendo do cargo ocupado, e o limite mínimo de um milhão de reais. Abaixo disso, o “malfeito” será considerado delito comum, ao lado de furto de galinhas e assassinato de passarinhos. As comissões comuns serão fixadas em 13,75 por cento, com livre negociação quando se tratar de negociatas com grandes empreiteiras.
Será criado um órgão regulador, encarregado de emitir licenças, fixar limites, fiscalizar o “mau andamento” de obras superfaturadas e punir os que se recusarem a aceitar propinas. Serão proibidas nomeações a cargos nos quais se manipulem grandes verbas a quem não for cadastrado nesse órgão.
A utilização das verbas de instituições poderosas, como os fundos de pensão, somente será efetuada por órgãos governamentais, evitando que se esvaziem os cofres com benefícios aos aposentados e viúvas.
Se aprovado – e não duvidem disso – será mais um projeto de grande utilidade para o país.