A GRANDE LIQUIDAÇÃO ANUAL DE PARIS

Graças a Deus, consegui sobreviver à abertura da mega liquidação anual promovida em Paris, salvo o cansaço, o estresse das compras e a distância entre as lojas participantes do evento, que vai de 09 de janeiro até meados de fevereiro de cada ano. Tudo que se via hoje nas ruas, desde a abertura do comércio, adentrando pela tarde e até o final do expediente, às oito horas da noite, eram as pessoas carregando sacolas com produtos adquiridos nas centenas de butiques parisienses, principalmente mulheres, noventa e nove por cento dos clientes eram elas, agitadas no ruge-ruge, desesperadas no corre-corre para escolher as melhores peças, os produtos com os mais altos descontos, o que houvesse de especial tanto na qualidade quanto no valor dos objetos escolhidos.

E realmente quase tudo está em liquidação em Paris, raras são as exceções, até mesmo marcas como Dior, Michel Kors, Marc Jacobs e Repetto estão com descontos especiais em algumas galerias como a Lafayette e Le Bon Marchê, ambas localizadas em área privilegiada da capital francesa. Justamente em virtude da queda nos preços, que chega até a extraordinários setenta por cento, multidões de parisienses e turistas de boa parte do mundo disputavam cada centímetro quadrado dos pontos comerciais para aproveitar o momento, gerando muito empurra-empurra, reclamações, olhares enfurecidos, troca de palavras em idiomas diferentes e enormes e intermináveis filas para comprar e para pagar. Como sempre, as mulheres asiáticas eram a grande maioria na ala das grifes caríssimas como Chanel, Prada, Rolex e Dior, se elas já compram em demasia quando não é tempo de liquidação, imagine agora com tantos descontos.

No meio da multidão de gente se desdobrando para conseguir adquirir os produtos mais baratos e outros nem tanto, eis que surge no meu caminho, saindo da Prada, um casal de orientais vestido à moda dos imperadores japoneses, ambos esbanjando realiza, ela deslumbrante, ele todo imperial, um broche de ouro enfiado no bolso esquerdo, caminhando na minha direção sob o acompanhamento de grandioso séquito carregando suas compras, certamente muitos destes se tratava de guarda-costas, e eis que o imperador, parecendo nada enxergar à sua frente, me dá um encontrão a quase me derrubar, nem me olha, não pede desculpa nem na difícil língua dele, simplesmente ignora minha existência e segue em frente, dezenas de sacolas no seu encalço, todas das marcas mais caras de Paris, especialmente Prada, Dior, Chanel, Luis Vuitton, Cartier e outras que não pude ver porque o casal e seus acólitos desapareceram subindo uma escada para algum lugar de mais compras da Galeria Lafayette.

Uma passadinha pelo Mac Donald's lá pelas tantas, sempre cheio e demais concorrido, filas e mais filas se avolumando, sem ter onde sentar, foi essencial para recarregar as energias e voltar novamente às compras. Não havia lugar para sentar quando compramos nosso food fast, mas percebi uma senhora acompanhada com a filhinha sentada a duas mesas, com duas cadeiras usadas para as coisas dela, ela também nos viu e ofereceu espaço para nos acomodarmos. Agradecemos, sentimos a simplicidade dela, que falava inglês e se mostrava solícita e simpática, procuramos agir da mesma forma, brincamos com a filha dela enquanto a mãe mexia nos pacotes surpreendentes e inesperados das caras grifes que retirava e punha numa das mesas por motivo de organização, deixando bem claro, embora não fosse essa a sua intenção, que era simples e humilde na aparência, mas tinha amplas condições financeiras para comprar quantos artigos de luxo desejasse. O casal sentado ao lado olhava tudo sem acreditar como alguém se mostrando tão simples comprara nas lojas mais caras de Paris.

A mega liquidação anual de Paris continua ainda por quase um mês, os amanhãs serão tão corridos e disputados como hoje, as mulheres voltarão alvoroçadas às lojas procurando fazer estoque capaz de durar muitos meses ou até o ano inteiro, as ruas, os metrôs, os ônibus, os carros particulares e as calçadas voltarão a se aglomerar, o comércio venderá como nunca, terminando todos ganhando com os descontos e com as vendas, mesmo o governo ao cobrar os impostos devidos. Os turistas receberão sua cota de grandes descontos, sem dúvida, pois além de produtos mais baratos receberão parte do dinheiro gasto através do tax free (livre de impostos), por essa razão muitos estarão novamente comprando antes de voltarem aos seus países de origem. A mega liquidação anual de Paris, por todas essas razões, é ansiosamente esperada não só na França ou na Europa, mas em boa parte do mundo.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 09/01/2013
Reeditado em 24/07/2016
Código do texto: T4075958
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