O lápis e a borracha

    Eu tinha cinco anos e estava indo à escola pela primeira vez.
    Ganhara do meu avô a pasta escolar que eu havia escolhido em sua papelaria. Eu adorava quando ia lá com minha mãe, porque ficava atraída não só pelas cores dos artigos existentes na vitrine, mas também pela variedade deles.
   Não conseguia me conter diante da expectativa de conhecer minha primeira professora e crivava minha mãe de perguntas. Vez ou outra ela me perguntava se eu queria que ela carregasse a pasta para mim, mas eu não aceitava. Aquele prazer era só meu e eu não o dividiria com ninguém.
   Finalmente chegamos aos portões da escola e, após
despedir-me de minha apreensiva mãe, dirigi-me ao
 local onde estavam os demais alunos que aguardavam
 para entrar em suas salas de aula.
   Sentada em meu lugar na sala, após ouvir as palavras
 de boas-vindas da minha professora, comecei a tirar
cuidadosamente o material escolar de dentro da pasta.
Tirei primeiro o caderno que, naquela época, era chamado de caderno horizontal – sua largura era maior do que a altura e suas linhas ficavam mais longas facilitando a escrita das primeiras letras pelos alunos iniciantes como eu.  A seguir , tirei um lápis com uma ponta fininha e uma borracha rosa
 e grande.
   De repente pareceu-me ouvir vozes, como se duas pessoas brigassem... Olhei à minha volta e todos os colegas estavam calados... Eu não sabia de onde vinham aquelas vozes, até que me pareceram vindas de cima da minha mesa, mais exatamente do lápis e da borracha!
Prestando atenção no que eles falavam, percebi que discutiam sobre a importância de cada um...
  Eu sou mais importante,
 dizia o lápis, porque, sem mim, as crianças não poderiam escrever suas primeiras letras!
  A borracha retrucava: engano
 seu, meu amigo, eu sou  mais importante do que você. Sem mim, os deveres escolares ficariam feios e rabiscados e os alunos ganhariam notas baixas e ficariam de castigo.
  Cada um apresentava seus motivos, ninguém queria ceder, e eu ouvia tudo com bastante atenção. A discussão continuou e meu primeiro dia de aula chegou ao fim sem que eu decidisse quem estava com a razão.
Os dois foram usados por mim muitas vezes durante
 meu primeiro ano escolar, e em todos os demais também, e tiveram sua utilidade comprovada.
  Precisei do lápis para
 escrever meu nome, para escrever as primeiras palavras com a mão ainda insegura e, mais tarde, para escrever minhas primeiras redações. Mas precisei da borracha para apagar
 aquela letra que saíra trêmula por algum descontrole
emocional ou para apagar aquela palavra grosseira de algum bilhete malcriado que pretendera enviar.
   Incorporei à minha vida a lição que eu aprendi com o lápis e com a borracha: todas  as pessoas e todos os objetos são importantes, depende somente da nossa necessidade momentânea, mas  só nos damos conta disso quando não os temos à mão.
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(não aceito duetos, por favor)