Confesso que vivi nos bares

Parece brincadeira um grupo de jovens sentir saudades de dois bares que fecharam aqui no Recife. Isso me faz lembrar uma cidade paraibana que tinha 22 bares e duas livrarias. Uma das livrarias fechou e mais um bar apareceu. Como se sabe, sem fazer a apologia à bebida alcoólica, de um passado não muito distante aqui no Recife, existia o Bar Savoy, referência do Recife boêmio e intelectual. Freqüentava-o personalidades da vida nacional e estrangeiros ilustres, a exemplo de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. Havia até Concurso Nacional de Poesia Carlos Pena Filho.

O Savoy daqueles tempos de curtição literária... A bebida era, para quase todos, o chope. O tema das conversas, a boemia, a vida da cidade...No outro lado da Ponte Maurício de Nassau, muitos bares – como o Silver Star, Texas Bar, Gambrinus, OK, Duas Américas, Black Tie, Lambreta, São Francisco, Astória – acolhiam as prostitutas de então. Existia também o Baependi, um boteco de madeira, localizado na Rua da Harmonia em Casa Amarela. O nome muitos acreditavam que era em homenagem ao Marquês de Baependi. Outros achavam que se originou do navio Baependi, que segundo a história foi torpedeado por submarinos alemães em 18 de agosto de 1942.

Era no Baependi, onde os falecidos poetas Godoy e Adalto recitavam "A Flor do Maracujá". Godoy declamava dramatizando a lenda sertaneja. Adalto também recitava a de Fagundes Varela. Um psiquiatra paradoxal, que tratava de alcoólatras sem abandonar o seu eterno uísque, fazia uma apologia ao adágio popular: "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".

Bom, muito diferente de hoje, essas recordações ficam registradas como forma de alerta para os jovens,amigos(as) poetas que estão presentes. Sem nenhum plágio ao poeta Pablo Neruda, posso dizer com a convicção do coração que "confesso que vivi".

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José Calvino
Enviado por José Calvino em 08/01/2013
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