Quitéria Chagas e o meu carnaval quarentão
(Publicado no blog do autor em Junho de 2005)
Pois bem, como não tem mais jeito, resolvi relaxar em relação a ser um quarentão, e pela primeira vez, me dedicar integralmente a folia de mômo aqui no Rio de Janeiro.
Desde o inicio do mês tenho feito programas carnavalescos.
Comecei pelas apresentações da GRES Vila Isabel (aquela do bairro do Noel!)no shopping Nova América e dei largada no meu reinado momesco.
Na quinta dia 23/2, fui ao ensaio geral do Império Serrano, em Madureira, e como sempre, fui absolutamente bem tratado.
Aliás alí, eles sempre tratam este poeta que vos escreve como um rei.
E aquela bateria gente? O que é aquilo?
Olha tenho andado por ai mas nenhuma bateria me traz o impulso de literalmente "me acabar" como aquela do Império Serrano.
Como se não bastasse ser bem tratado, as pessoas serem tão simpáticas e alegres, aquela bateria nota 1000, o reencontro de tantos velhos amigos, o Império Serrano ainda tem uma riqueza deslumbrante que atende pelo nome de...
Quitéria Chagas.
A rainha da bateria da escola madureirense é simplesmente divinal, colossal, admirável, irresistível, contagiante,
e tenho a certeza que todos estes adjetivos são poucos para traduzir aquela moça.
Ela definitivamente não faz o tipo "gostosona" de outras madrinhas de bateria do Rio.
Nada tem de parecido com Luanas Piovanis, Carois Castros, Vivianes Araújos, Lumas de Oliveiras, ou Adrianas Bombons.
Quitéria simplesmente é o que há, com aquele sorriso devastador e olhar que "vê" os mais secretos cantos da nossa alma.
Ao chegar, devidamente cercada de seguranças,
passou pelos camarotes distribuidos acenos e olhares de simpatia.
No camarote do presidente, ainda comentei com meu amigo Osmar de Paula:
- De que planeta será que ela veio?
Depois de devidamente anunciada, ela seguiu até o espaço destinado a bateria da escola, e começou aquilo que este pobre poeta classifica como o "Espetáculo Ritual da Magia de Luz com Requintes de Crueldade".
À frente da bateria, Quitéria consegue inexplicavelmente crescer e brilhar ainda mais, por mais que isso pareça improvável ou até impossível.
Cada vez que ela abre seus braços parece que os Deuses do Olimpo dão as mãos e uma luminosidade inacreditável exala daquela mulher que mesmo sem trajes apelativos, prende a atenção de homens, mulheres, crianças, etc.
Ela é simplesmente divina.
Alterna momentos divinais, quando por vezes se parece com uma Deusa Hindu, outras uma dançarina árabe, hora uma índia, hora a mãe oxum a se banhar na cachoeira.
Seus braços parecem estender até o infinito,
e serem os elos de ligação com o astral superior, com o cosmo, com a fonte da vida... por fim...
Ela é mesmo divinal!
A conheci no ano passado quando o Império Serrano
recebeu uma comitiva de Ministros dos Esportes dos países da América Latina.
Naquela oportunidade, lembro que ela quebrou o salto de sua sandália, e ofereceu aquele pé lindo a um passista para que lhe tirasse o calçado e lhe deixasse sambar descalça.
Recordo que o ministro Agnelo Queiróz, olhava a cena como que petrificado, tal a doçura dos movimentos de Quitéria.
Tenho certeza que o ministro gostaria de tirar aquela sandália dos pés da musa.... Ah... e eu também!
Mas voltando ao presente, na última quinta feira,
depois de brindar toda a família imperiana com sua magia e graça, Quitéria foi aos camarotes abraçar a cada convidado da escola.
Ao me reencontrar, abraçou-me com graciosidade, comentou o fato de eu ter cortado meus longos cabelos (agora sou carequinha!) e falou de sua ansiedade para a hora do desfile.
Tiramos algumas fotos, e depois ela se foi, a encantar todos os outros camarotes.
Fiquei parado, inerte e mudo por algum tempo.
Já de madrugada, ao sair da quadra imperiana, percebo que ela está ao meu lado, também indo embora.
Um táxi a esperava de portas abertas.
Ela entra e ainda tem tempo de dizer "tchau" e dar adeus a esse pobre poeta...
Lá foi Quitéria de volta ao seu pantheon sagrado.
Fui para casa com uma estranha intuição que um dia escreverei um romance chamado "O poeta e a Passista"...
No dia seguinte, sentado a beira da cama penso em quantas linhas já escrevi para Luanas Piovanis, Carois Castros, etc, e me pergunto:
O que fazer desta vida sem Quitéria Chagas?