D Doca e o portão

(crônica)

Dona Doca ficava ao portão junto às suas três filhas solteironas, quando passava uma moça “bem servida”, D. Doca chamava atenção apontado para a tal moça, ressaltava-lhe todos os defeitos. Passava outra senhora, D. Doca comentava com suas filhas, aquela ali não é amante do!....? Mas que pouca vergonha!!! Que coisa mais feia!!! Tem gente que não se enxerga mesmo!!! Uma era gorda demais, outra era magra, outra, muito baixa. Uma era sem bunda, outra sem peito, outra tinha as pernas finas, outra tinha peito de mais, outra muito velha...

Vem se aproximando um grupinho de moçoilas adolescentes, D. Doca aponta-as comentando com suas filhas o defeito de cada uma delas. Tem a nariguda, tem a mais gorda, tem a “negrinha”, tem aquela que é peguete do Zezinho, aquela que o totó engravidou e deixou, tem a assanhadinha que fica dando em cima do sobrinho dela (D. doca), tem aquela feia que morre de inveja das suas filhas e etc.

Dos homens que passam, aqueles que passam de carro ou de moto, têm sempre um mimo de Dona Doca. Os melhores adjetivos e elogios são com certeza para eles. Bonitão! Charmoso! Gente boa! Simpático! Bom partido! Amigão chegado à “nossa família”! Gente fina, e etc. As respectivas motos e carros dos mesmos então!!! São tudo de bom! Novo(a)! Bonito(a), Perfeito(a)! Todos eles sem exceção ganham super bem e recebem aceno de mãos, beijinhos jogados, tchauzinhos e suspiros românticos até sumirem de vista...

Os rapazes que passam a pé, ganham os piores adjetivos. Feioso! Careca! Bobalhão! Nunca viu gente não? Palhaço! Vê se se enxerga! Pé de chinelo! Pobretão! Gentinha!... Minhas filhas não são pro seu bico! Baixote! Pintor de roda-pé! branquelo azedo! Toco de amarrar jegue! Caolho! Magricela!...

O filho da vizinha é sempre o maconheiro, vagabundo. A mocinha da esquina é!... Aquela outra gosta de tomar o marido alheio... Enfim, o portão era a vitrine para D Doca elevar os dotes e qualidades de suas filhas e ressaltar os defeitos daquela vizinhança tão cheia de defeitos...

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Arnaldo Leodegário
Enviado por Arnaldo Leodegário em 08/01/2013
Código do texto: T4074065
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