Amigo imaginario
Quando criança era normal você ter um amigo imaginário. Toda criança tinha. Ele era o amigo perfeito. Estava sempre ao seu lado. Nunca te deixava na mão, te ouvia, sempre concordava, nunca discutia, nem queria aparecer mais do que você. Mas conforme você foi crescendo foi deixando ele de lado pra ficar com amigos reais. Já não conversava mais com ele, não brincava, não procurava mais. Desfazia-se dele em frente aos de carne e osso. Começou a agir como se ele não existisse. Agora não era mais você quem falava sozinho, era ele, tentando se comunicar com você, que não tinha tempo, pois estava crescendo ou apenas porque não queria se passar por louco falando com alguém que não poderia nem responder, não aparecia em fotos ou vídeo como os outros amigos. Então o tempo passou e ele ficou pra trás, como muitas amizades, afinal de contas na vida é assim, cada fase você tem um circulo de amizades. Na escola tem aqueles amigos inseparáveis, aquela rodinha que passa cola, lancha, faz trabalho, bagunça, etc. depois vai para faculdade então arruma outros, começa a trabalhar e lá cria-se um novo circulo, termina a faculdade, muda de emprego vem novos amigos, casa-se e conhece os amigos da sua conjugue, soma os seus amigos com os dela, diminui os que não tem são casal e fica só com os pares – casados só tem amigos casados. Separa-se, dividem-se os amigos, vai ficando velho começa a voltar a procurar os amigos que já passaram, já que quanto mais velho você fica mais difícil é de se fazer novas amizades. Então quando percebe que não tem mais tantos amigos, os nichos de amizade esta escassa é cada vez mais raro arrumar um amigo, começa a sentir falta daquele amigo imaginário, como seria bom se ele estivesse ali para ouvir nossos lamentos e reclamações, ele escutaria tudinho, apoiaria, não julgaria. Mas deixamo-lo de lado lá atrás, com medo do que as pessoas falariam se te visse com ele – ou melhor, não te vissem. E agora é tarde porque quem não quer mais ser visto ao seu lado é ele.
Eles estão no quarto jogando vídeo game, quando Mica aperta o pause e se vira sério para o amigo.
- Cara, tenho que te falar uma coisa.
- Agora que eu ia fazer o gol?
Mica fica em silencio.
- Ta bom se é tão importante assim, manda ae.
- Não podemos mais ser amigos.
- Oi?
- Não podemos mais ser amigos, andar juntos...
- Por quê? Foi alguma coisa que eu fiz, que eu não fiz, que eu deixei de fazer. Desculpa cara.
- Não, não é isso.
- O que é então? Não faz isso comigo, você é o único que fala comigo. Eu não sei o que é, mas eu vou mudar. Prometo. Só falar. Eu mudo na hora. É meu cabelo né? Sabia que não ia gostar do novo penteado.
- Não, não é isso. Seu cabelo é até maneiro. Só que não da mais.
- Obrigado. Então o que é?
- É que eu acho que está na hora de eu ter um amigo de verdade.
- Mas eu sou seu amigo de verdade.
- Não, eu to falando, de verdade, verdade.
Silencio.
- O que eu to querendo dizer é, um amigo real. De carne e osso. Que aparece nas fotos. Que tenha amigos em comum.
- Mas e todo esse tempo que passamos juntos.
- Foi muito bom. Você sempre foi um grande amigo, mas ta na hora de eu crescer.
Silencio.
- É difícil pra mim também. Mas tem que ser assim. Minha mãe já tava querendo me levar num psiquiatra.
- Michael, ta falando sozinho de novo? – grita a mãe de algum outro cômodo da casa.
- To falando com o vídeo game mãe.
Olha para o amigo imaginário.
- Viu!
Silencio.
- Então é isso?
- Acho que sim.
Silencio.
- Podemos pelo menos terminar a partida.
Ele balança a cabeça, dizendo que sim, o movimento faz escorrer uma lagrima.
Ps:. Saudades do meu amigo imaginário, ele anda desaparecido. Se virem ele por ai, diga que eu mandei um abraço.