EM ALGUMA FRASE DESSE TEXTO

Todo mundo, um dia, esteve no topo e não teve consciência disso. Acontece que, quando a gente está no topo, nunca acredita que ali, diante daquelas coisas que acontecem, o reconhecimento notório e tapinhas nas costas possam significar que, finalmente, a gente chegou lá. Eu estive no topo e também não sabia.

Estive no topo das questões sociais, nas tomadas de decisões, na febre dos dias que nunca terminavam, das reuniões infindáveis e das polêmicas vazias. Eu estive no topo daquilo que queria e não me dei conta disso, não tive uma colocação prévia onde pudesse eternizar o momento, no máximo algumas comemorações festivas e nada mais. Isso acontece quando estamos no topo e acreditamos que isso não passa de uma ideologia, uma obrigação com a sociedade.

A gente está no topo quando está em paz, está com a família, com aqueles que a gente sente alguma coisa muito maior do que as palavras podem expressar agora; Estamos no topo quando dormimos e acordamos com um sorriso de integridade e digno; Estamos no topo quando concebemos chorar em uma cena de filme porque nos fez lembrar um momento de felicidade.

Eu estive no topo quando aprendia a cantar os sambas que minha cantava; quando esperava meu pai chegar em casa, à noite, para desejar boa noite e dormir com o paladar das balas que ele trazia; quando trocava o apelido de um colega pelo seu nome próprio para não constranger; quando peneirava a gaveta do quarto dos meus pais atrás dos recortes das trovas publicadas nos jornais, aos domingos, que minha mãe colecionava.

Eu, agora, neste momento, estou no topo, no auge da minha existência, no contexto do bordado em meio aos retalhos que escolhi para costurar a minha roupa nova, o meu texto engavetado, o grito que sai da minha boca e, como um solo, chega como música aos ouvidos de quem acaba de se encontrar em alguma frase desse texto.

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 08/01/2013
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