Transcrita

Sim, eu sou humana. Sentia a dor em cada poro, mas não era uma dor física. Aquela raiva me corria pelo corpo como adrenalina, e meus dentes travados, me impediam de gritar.

Não, eu não queria gritar. Preferia deixar a angústia silenciosa tomar conta de mim, e me torturar. Isso eu sabia fazer bem, a auto flagelação, seguida da auto piedade.

O ventilador continuava girando, com seu barulho de partes travadas habituais, mas o som me confortava, me fazia sentir em casa. E eu ali de pernas cruzadas sobre a cama, só pensando. Os dedos se torcendo, chegando a dar um nó nos nós. E eu que estava presa no próprio laço.

Talvez, eu conseguisse sair do meu próprio labirinto, sim afinal, estava sempre criando meus próprios grilhões. Ah quão estúpida.

Não sabia se ria ou chorava, parecia uma patética imitação pantomímica de meu próprio reflexo ausente.

E ausente estava e ausente ficou, so aparecendo de vez em quando, na borda do espelho, para se esconder logo em seguida, não sei se assustado pelo meu próprio desespero, ou se atraído para o interior de minha própria loucura.

A questão é que eu estava sendo o cerne de algum espetáculo tragicômico, onde a platéia simplesmente estava alheia e indiferente a meus saltos e malabares, lagrimas e pesares.

Bem, eu deveria então recitar meu mantra de ano novo, e voltar a me concentrar em mim... mas oras, não era isso que eu fazia desde o começo?

Antes do desabafo digno de um manicômio?

É o torpor da noite chegando, o porre da decepção, ou a alegria do novo... Sentir é doloroso, mas é melhor que a dose de anestesia diária que nos forçamos a engolir...

Fico por aqui entre meus meios, minhas palavras e meus dissabores.

Adriana A Bruno
Enviado por Adriana A Bruno em 08/01/2013
Código do texto: T4072969
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