ANDANDO NA CONTRAMÃO

ANDANDO NA CONTRAMÃO

Por Aderson Machado.

Ainda me lembro, com muita nitidez, de alguns ensinamentos que aprendi no meu primeiro ano de escola.

Com efeito, lembro-me de que a minha primeira professora nos orientava no sentido de lavarmos bem as mãos, preferencialmente com sabão, sempre depois do ato de defecar. Tudo bem. Até aí, nada demais. Outra coisa: era importante se tomar banho todos os santos dias, segundo a professora. E isso eu cumpria à risca, porquanto eu tomava “banho” todos os dias, só que era no “açude” de meu pai, cuja água era bastante suja, e quando eu saía de dentro d’água parecia até que estava com um “bigode”, haja vista que a água era lamacenta mesmo. Mas não foi aí que já estava andando na contramão dos bons ensinamentos. Assim, antes mesmo de ir para a escola, havia os ensinamentos domésticos, ministrados pelos meus genitores, que eu, via de regra, não os cumpria. Um deles dizia respeito exatamente aos banhos no tal “açude”. Tanto meu pai quanto minha mãe não queria, de jeito e maneira, que eu fosse adentrar o “açude’ no período da tarde, pois além de a água estar suja, estava quente, o que era por demais prejudicial à minha saúde, bem como à saúde de qualquer garoto de minha idade.

Mas não havia jeito: vira e mexe, e lá estava eu, à socapa, metido de corpo inteiro na água quente e suja do barreiro. Aliás, esta é a terminologia mais adequada, pois não se tratava de um açude de verdade, cuja água é mais profunda e normalmente mais limpa.

Outra recomendação não cumprida por mim: chupar mangas à tarde, tiradas da mangueira, pois essas mangas consequentemente estavam quentes, o que representava um perigo iminente para a minha saúde. Com esse tipo de procedimento, não raras vezes eu adoecia, para desconforto físico meu, e preocupação para a minha mãe, que ia à procura de remédios para me curar. Normalmente eram remédios caseiros, à base da homeopatia.

Andar descalço, nem pensar! E será que eu também não fugia a essa regra? Quase sempre. E por isso mesmo, amiúde, chegava à minha casa com os pés mutilados. Era um corte aqui, uma furada de prego ou espinho acolá, frieiras, e muito mais! Um inferno. E haja preocupação pra minha mãe, além de suas preocupações domésticas.

Não só minha mãe se preocupava comigo. Meu pai também. E partia dele as ordens para que eu não andasse a cavalo, subisse em árvores altas, levasse sol em demasia, não tomasse banho de chuva, brincasse com meninos mal-levados, enfim, uma série interminável de recomendações que nunca eram cumpridas por mim. E o interessante é que essas determinações eram para o meu próprio bem-estar. Físico, mental e espiritual. Só que eu teimava em não seguir pelo caminho correto. Preferia andar na contramão de todos os ensinamentos salutares.

Finalizando, gostaria de levantar um pequeno questionamento: Será que todas as crianças nascidas e criadas, como eu, na zona rural, eram diferentes de mim em termos de comportamento?

Será?

Aderson Machado
Enviado por Aderson Machado em 08/01/2013
Código do texto: T4072931
Classificação de conteúdo: seguro