AS BAGUETES DE PARIS

Há algo de maravilhoso, mágico e inusitado nas deliciosas baguetes consumidas pelos parisienses todos os dias e procuradas por eles principalmente nas mais famosas boulangeries de Paris. Quem não consegue passar sem pão no seu dia a dia e vem à capital da França para fazer turismo ou passar uma temporada, procura também as padarias que figuram entre as dez melhores, escolhidas todos os anos por um júri especial de especialistas no assunto. De tão saborosas, diferentes, produto muitas vezes de verdadeiros padeiros artesãos de grande habilidade, podemos afirmar sem medo de estar exagerando que as baguetes parisienses tem algo de fascinante, de frescor, de flores recatadas em seu perfume, de brisa sussurrando um hálito de menta suave, de folhas farfalhando o almíscar das florestas, de manjar descendo do céu através de algum tobogã invisível e aterrissando em grande estilo em nosso agradecido paladar.

As baguetes de Paris são gostosas e crocantes, finas, compridas, lindamente cascudas, especialmente douradinhas, com pouquíssimo miolo, aeradas de forma magistral, e, surpreendam-se, parecem clamar, lá de onde estão aglomeradas em exposição objetivando despertar o desejo e a gula dos consumidores, para ser degustadas como se num ritual litúrgico, diria mesmo religioso, saboreando cada fatia, sentindo seu aroma despertar alegremente as papilas gustativas que dançam e pulam como se participando de uma festa onde a diversão maior fosse o prazer supremo de comer sem parar, mastigar com vontade, deixar que a saliva vá absorvendo os pedaços e distribua por toda a boca o seu gosto até o exato momento de, bem devagar, engolir o que já está mastigado e partir para mais. Enquanto a atraente baguete estiver sobre a mesa o desejo de comê-la não acaba.

A baguete é tão importante na vida do povo e das autoridades parisienses, é de tal maneira especial em seu cotidiano, sendo parte imprescindível de seu cardápio em todas as refeições, que há um decreto legal do pão oriundo do governo regulando a confecção e os ingredientes que deverão compô-las, regras essas seguidas religiosamente pelos boulangers (padeiros), os quais tratam de preparar seu produto com perfeição além do normal. Além disso, um concurso anual escolhe as dez melhores padarias de Paris, e para o primeiro lugar é dado o privilégio de fornecer suas baguetes durante o ano inteiro ao Governo francês. Isso, evidentemente, a torna famosa e disputada entre os mais fanáticos cidadãos e também em meio aos turistas habituados a comer pão todos os dias. Nessas padarias formam-se filas memoráveis ao anoitecer, silenciosas, tranquilas, sem presa, o povaréu aguardando a vez de também comprar as baguetes e levá-las para casa sob as axilas. Muitos deles não resistem, vão comendo pelo caminho.

Aliás, comprar diariamente, levar sob as axilas e sair por aí comendo baguete na Cidade-Luz é quase algo muito normal. E não é sem razão que isso acontece, pois os franceses tem verdadeira adoração pela baguete e ela é, sem dúvida, única, sui-gêneris, diferente, tem algo de místico e fantasia, um gosto muito além da imaginação, sensibiliza o paladar, acorda-o, leva-o a salivar ate sua visão de delícias. Assim como o perfume francês, a baguete, com seu aroma próprio e inigualável, seu sabor raro e incrivelmente irresistível, tem lugar de honra no pódio como uma das mais famosas de Paris. O forasteiro que come a baguete francesa produzida segundo os rígidos padrões de qualidade, sabor e requinte, não esquece jamais. E quer repetir.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 08/01/2013
Código do texto: T4072802
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