A FUNDAÇÃO DA RÁDIO GUAIBA
A FUNDAÇÃO DA RÁDIO GUAÍBA.
Idos dos anos 70, dois jovens se encontram em um dia como outro qualquer no estabelecimento da cidade, que chamávamos de Empório. Daqueles em que se vende de tudo. Tudo mesmo, desde cereais a granel, quanto fumo de corda, chapéus, botinas, bebidas e tantas outras coisas. Era o empório do “seu tiãozinho Furtado” e família, claro! Guarani D’Oeste, uma cidadezinha distante uns 650 Km da capital paulista, divisando os Estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Nessa época a criatividade era a melhor companheira dos jovens do lugar, haja vista a falta de recursos, não digo dos naturais, pois lá isso é fartura. Digo dos recursos para diversão, que hoje temos aos montes, como shopping’s, cinemas, lanchonetes e tantas outras, difíceis de enumerar aqui. Tínhamos muita criatividade para passar o tempo. Entro no empório e vejo meu grande amigo mexendo em algo que, para mim, era uma enjenhoca, cheias de fios. Um rádio, um pequeno tocafitas e um pequeno e antiquado microfone. Pergunto ao meu amigo o que significa aquilo e com um sorriso maroto nos lábios me responde: Veja só isso, e começou a mostrar-me o que tinha feito! O rádio tinha sido colocado no alto, na prateleira mais alta do empório, juntamente com as garrafas de bebidas que ficavam ali expostas. Do rádio, que só era utilizado o alto falante, saia um fio que era ligado ao tocafitas (k-7) que ficava sobre um pequeno balcão, e dele saia um microfone. Mostrou-me, então, o funcionamento da enjenhoca. Ligando o tocafitas o som da musica saia no rádio, no alto da prateleira e quando se falava ao microfone a voz saia também no altofalante do rádio. Nossa....isso é fantástico, disse! Naquele momento entrou uma jovem menina no empório e não precisou muito para termos a mesma idéia, bastando somente um olhar entre nós. A música tocada no pequeno tocafitas era melódica e estava, á época, nos primeiros lugares das paradas da região. Enquanto meu amigo a atendia no balcão do empório do “seu tiãozinho” eu peguei o microfone, escondendo-o para que a jovem não visse e comecei a primeira locução da Rádio Guaíba: “Quem vos fala é Alberto Fabrício, da Rádio Guaíba, e temos um oferecimento de música de um ouvinte”. “A rádio Guaíba tem as ondas do rádio, de 45 megahertz, freqüência de ondas médias e curtas”. “Nosso ouvinte oferece esta música para sua grande paixão de Guarani D’Oeste”. E num golpe fatal, disse o nome da menina que acabara de entrar no empório. Ela, num misto de susto e alegria, olhou para o rádio no alto da prateleira e saiu com os passos apressados do lugar. Eu e meu amigo começamos a rir daquilo tudo e, pelo sucesso da primeira locução da Rádio Guaíba, ganhamos coragem e a partir daquele momento não paramos mais. Todos que entravam no empório eram agraciados com músicas, dedicadas por alguém que estava apaixonado e queria dedicar ao ouvinte que ali entrava, uma música. Tudo estava indo bem, e nós dois empolgados com toda aquela brincadeira nos sentíamos como verdadeiros locutores de rádio, com a voz empostada e com locuções criativas. Até propaganda fizemos de outros estabelecimentos da cidade. Mas como todo jovem, não nos contentamos com aquilo! Queríamos mais! Mais emoção, e então tivemos uma idéia que, se não tivesse sido trágica, teria sido cômica!. A cidade era berço de trabalhadores da barragem de Água Vermelha. Hidrelétrica do complexo de Urubupungá, e moravam ali várias famílias que tinham seus entes queridos trabalhando na obra da barragem. Entrou outro cliente no empório e notamos que era um filho de um trabalhador da barragem. Peguei o microfone, e sem pensar comecei a falar: “Aqui é da Rádio Guaíba e interrompemos nossa programação para uma notícia extraordinária! Acaba de acontecer um acidente na barragem de Água Vermelha e informamos que são vários os feridos. Pedimos aos senhores ouvintes que não se dirijam para o local, porque o tráfego está intenso, com várias ambulâncias e viaturas do corpo de bombeiros dirigindo-se para o local! Continuamos com nossa programação normal e logo mais daremos mais notícias sobre o acidente!.....Bem, o jovem que ouvia aquilo ficou branco e saiu correndo do empório e com certeza em direção à Vila dos Funcionários da Barragem. Dali alguns minutos entrou outra pessoa e novamente demos a notícia sobre o acidente na nossa Rádio Guaíba. Não demorou muito para entrar um adulto no empório e nos perguntar qual era a rádio que estávamos sintonizados porque tinha tomado conhecimento da notícia mas não conseguia sintonizar a Rádio Guaíba no seu rádio. Bem, não demorou muito para que o local se enchesse de pessoas querendo saber sobre a tal Rádio Guaíba que dava a notícia do acidente. Aquela situação nos apavorou, diante da dimensão que tudo tinha tomado. Resolvemos, de bom grado, contar para um adulto o que tínhamos feito e ele nos aconselhou a desmentir tudo e mostrar para as pessoas o que tínhamos feito, passando-nos um “sabão”. Mostramos, então, a todos que tudo não passava de uma brincadeira desmontando nossa Rádio Guaíba, que não durou mais que umas duas ou três horas no ar. Hoje, passados mais de 40 anos da fundação e extinção da Rádio Guaíba tenho saudades, não da brincadeira, que diga-se de passagem, de mau gosto, mas saudades do locutor amigo. Saudades do empório do “seu” Tiãozinho. E principalmente, saudades dos tempos de infância que, apesar do susto que demos nas pessoas, foi feliz! Um abraço ao meu amigo, cofundador e sócio, nem que por algumas horas, da rádio Guaíba, Dr. Ronaldo Furtado!