Charles Chaplin e os velhos 'boleiros'
“A COISA MAIS INJUSTA SOBRE A VIDA É A MANEIRA COMO ELA TERMINA. EU ACHO QUE O VERDADEIRO CICLO DA VIDA ESTÁ TODO DE TRÁS PARA FRENTE. NÓS DEVERÍAMOS MORRER PRIMEIRO, NOS LIVRAR LOGO DISSO. DAÍ VIVER NUM ASILO, ATÉ SER CHUTADO PARA FORA DE LÁ POR ESTARMOS MUITO NOVO. GANHAR UM RELÓGIO DE OURO E IR TRABALHAR. ENTÃO VOCÊ TRABALHA 40 ANOS ATÉ FICAR NOVO O BASTANTE PRA PODER APROVEITAR SUA APOSENTADORIA. AÍ VOCÊ CURTE TUDO, BEBE BASTANTE ÁLCOOL, FAZ FESTAS E SE PREPARA PRA FACULDADE. VOCÊ VAI PRO COLÉGIO, TEM VÁRIAS NAMORADAS, VIRA CRIANÇA, NÃO TEM NENHUMA RESPONSABILIDADE, SE TORNA UM BEBEZINHO DE COLO, VOLTA PRO ÚTERO DA MÃE, PASSA SEUS ÚLTIMOS NOVE MESES DE VIDA FLUTUANDO...E TERMINA TUDO COM UM ÓTIMO ORGASMO!!! NÃO SERIA PERFEITO?"
Perfeita essa fórmula mágica de se viver, morrendo primeiro, para depois viver. Charles Chaplin só se esqueceu de falar que, depois que saímos do asilo a gente começa a jogar nossa bolinha de final de semana. O importante é que já tendo morrido, presume-se que já se viveu e se adquiriu a experiência de antes. Embora ainda faltasse a vida toda pela frente, poderíamos ter adquirido experiência no universo da reencarnação. Logo, isso ajuda muito no futebol porque quando começamos, ao invés de ficarmos correndo desenfreadamente, sem pensar, já temos noção de que o campo tem seus atalhos. Seríamos, assim, um novo jogador experiente...
Essa seria, também, a fórmula para que muitos de nós "velhos boleiros" estivéssemos no auge de nossa carreira futebolística. Eu, por exemplo, não estaria neste momento que chamamos de ‘hora de dependurar a chuteira’. Ao contrário, ao invés de estar me reformulando para ser técnico nos campeonatos, eu estaria é ‘voando baixo’ nos meus vinte e poucos anos. Seria sorteado na ala dos jovens e, com minha experiência de muitos anos, não desperdiçaria minhas energias com correrias insanas. Utilizaria meu preparo físico no momento certo para que pudesse chegar ao final da partida com fôlego para mais noventa minutos.
Mas, infelizmente, a teoria de Charles Chaplin não serviu nem mesmo pra ele, tanto que hoje ele já deve estar se recuperando no mundo espiritual para voltar como bebê outra vez.
O que importa é que nós vamos envelhecendo, mas vamos trazendo junto conosco a universalidade do conhecimento e da experiência. Como seria bom se os jovens de hoje pudessem compreender que quem já viveu bastante tem muito mais bagagem para prever o que determinados atos podem significar no amanhã.
Assim, jamais poderemos desejar o esquecimento de tudo aquilo que já se passou. O futuro a Deus pertence, a nós somente o passado. O próprio Charles Chaplin, que considero um pensador de ótimo reflexo filosófico, também disse:
“Não faças do amanhã o sinônimo do nunca. Nem o ontem te seja o mesmo que o nunca mais. Teus passos ficarão. Olhes para trás...mas vá em frente, pois há muitos que precisam que cheques para poderem seguir-te”.
Enfim, se hoje escrevo mais com palavras de nostalgia é porque sinto que tenho de abrir espaço para aqueles que estão chegando. Eles não viveram tanto, mas contam com nossa experiência para conhecer os atalhos. Nós vamos ensinar o que aprendemos, mas cabe a eles escutar ou não. Quem age com sabedoria sempre ouve a palavra de quem já viveu mais.
Assim será, tanto aqui em nossa vida cotidiana, como em qualquer outra cancha esportiva instalada por esse nosso Brasil a fora. É o ciclo da vida que se renova.
Espero que os jovens de hoje saibam aproveitar a experiência daqueles que já tiveram ocasião de errar. É errando muito que se aprende. Mas, muitas vezes quem se interessa por estatísticas irá chegar na frente de outros que insistem em repetir os erros dos mais velhos, só porque não tiverem tempo ou nunca quiseram escutar as sabedorias dos idosos.