Crianças ... vizinhança
Nossos ouvidos muitas vezes procuram ouvir além da mediocridade imposta pela nossa barulhenta civilização, ou, seria incivilização!?
A espera por uma carona, proporcionou-me acontecimentos interessantes ... a espera não foi em vão! Longa espera ... Cronos parece engolir nosso cérebro enfiando-o goela abaixo, como... sardinha rolando pela garganta de uma foca esfomeada. Espera... Tempo...
Veruna, filha da Ludmila, a vizinha da direita exercita o ouvido de sua mãe... seus gritos agudos incomodam os cachorros da redondeza. Pondo a prova a paciência da mãe, a menina transforma o quintal da casa num palco do Rock in Rio!
“Veruna ... silêncio!”
Calor! Ouço uma voz infantil. Noto o desenvolvimento da fala na pronuncia das palavras, gosto muito de acompanhar as crianças neste processo da aquisição da linguagem.
“Olha qui eu tenho.”
“Andressa ... cuidado com essa tesoura!” Digo para ela. Andressa é uma menina de dois anos, linda, cabelo cacheado como, a Shirley Temple, aquela artista mirim do cinema em Hollywood . Carrego balas e pirulitos na bolsa para distribuir para as crianças, deste modo, conquistei Veruna e Andressa como amigas adocicadas.
“Veruna , por favor, para de esgoelar... cante baixo, o seu irmãozinho quer dormir...”
Enquanto isto, eu entrego um pirulito para Andressa, a menina entra feliz para dentro de casa.
“Andressa, o que você fez?!?” a voz angustiada da tia, se faz ouvir em alto e bom tom.
“Veruna, pela última vez, silêncio.” A mãe foi enérgica! E, de repente, o silêncio se fez... senti como estivesse no momento da criação do mundo... no tal do Gênesis, ou, para os céticos no Big Bang!
“Tchia, eu cortei o cabelo da buneca.”
“Como... !? Andressa eu não estou entendendo?!”
“Tchia eu cortei o cabelo da Andressa!”
A tia da menina estava tomando conta dela para a sua mãe ir ao médico. A tia fica sem saber o que fazer!
E, lá veio a Andressa “Temple” me mostrar o que tinha feito... estava sem os seus cachinhos... Tinha acabado de fazer um caminho de rato no seu cabelo!