ENCONTROS
ENCONTROS
Ao me dirigir, como faço habitualmente aos domingos, à Missa na Matriz de Santo André, a Igreja Rosa como é conhecida, lá cheguei com uma antecedência de meia hora.
Essa igreja me é muito especial, porque ali eu fui batizado, fiz primeira comunhão, crismado, fui coroinha e pertenci à Cruzada Eucarística. Pensei, então, em tomar um café no antigo Bar da Saudade, a um pouco mais de um quarteirão do templo.
Nem bem andei cem metros, eis que me deparo com dois personagens dos meus tempos de infância e adolescência, ligados a estabelecimentos que marcaram momentos inesquecíveis de minha existência. O Zé da Padaria e o Claudinei.
O Zé da Padaria, filho do Serafim Garcia, este o proprietário da antiga Padaria Paulicéia, onde eu ia pegar o pão diário, intercalando com a Padaria São Paulo. Ora numa, ora noutra. O Zé desandou a falar de fatos acontecidos, nos idos de 1940/1950, quando, inclusive, houve a mudança da panificadora de seu pai, da Avenida João Ramalho, para defronte à mercearia Dom Bosco, de minha família, na esquina com a Rua Guilherme Marconi. Uma passagem interessante por ele contada, que até eu desconhecia, aconteceu no tempo da II Guerra Mundial, quando havia racionamento de farinha de trigo. O Seu Serafim, diante das dificuldades, ouvindo o conselho de um amigo, começou a produzir pão com uma matéria prima inusitada. A importação de macarrão argentino era livre, não havia qualquer restrição. Diante disso, ele comprava grandes quantidades do macarrão e punha a dissolvê-lo. Então, usava aquela pasta para produzir um determinado tipo de pão, que chamamos de forma. À clientela conhecida, ele vendia o produto, um tanto quanto clandestinamente. Segundo o Zé, aí foi o início da riqueza de seu pai, tido como um homem de grande fortuna.
O Claudinei é um dos membros mais novos da família fundadora da Churrascaria São João, a mais antiga de Santo André. Hoje, tem outros proprietários. Ela nasceu de um pequeno bar existente na Rua Guilherme Marconi. Bar bem de periferia, pequeno, sem grandes atrativos, a não ser a fiel clientela, a maioria de italianos, que se reunia para jogar sueca, scoppa, e outros jogos típicos daquela nação. Numa pequena sala anexa, um dos donos, o Nardo, como era chamado, teve a idéia de assar, numa pequena churrasqueira portátil, bisteca de boi, temperada por ele. Uma delícia. Foi o início!
A coisa pegou e foi crescendo! A seguir veio a feijoada, servida numa quantidade bem grande, e acompanhada por pimentão recheado, pastel, salada, um exagero. Diante da qualidade e da quantidade de comida, a Churrascaria São João tornou-se famosa, e com o passar dos anos veio a ser um estabelecimento tradicional, hoje muito freqüentado pelas famílias andreense, e da região.
No meio da conversa, eis que passa correndo outro amigo, se bem que mais novo, o Batata, dentista, praticante de corrida, filho de um tradicional alfaiate de Santo André, o Fraga.
A Missa estava para começar. A conversa foi tão agradável, que até me esqueci do cafezinho. É como sempre digo. Toda vez que caminho pela Vila Assunção, acontece tanta coisa prazerosa, que não sinto o tempo passar.
São momentos de grande felicidade!