A minha versão de “O incêndio e o passarinho”
Existe aquela história que tem como palco um incêndio na floresta onde um passarinho ia até um riacho e de lá trazia algumas gotas de água no bico e lançava nas labaredas. E que os demais animais silvestres acharam aquela atitude estranha, inútil, boba, pois o fogo continuava alastrando-se, em nada, nada mesmo, influindo para debelar as chamas. Nessa fábula outros bichos ao perguntarem ao passarinho se ele achava que poderia acabar com o incêndio obtiveram como resposta que ele não sabia, mas estava fazendo a sua parte. E assim termina a história.
Mas, quase toda história ao ser contada apresenta suas variações. Há um ditado de que "quem conta um conto aumenta um ponto".
Vai aqui a minha versão dessa fábula, que não é propriamente outra versão, mas a minha continuação da história.
O mesmo passarinho continuou em sua altruística mas inútil tarefa, enquanto outros animais, alguns atônitos e penalizados, outros indiferentes, resolveram acompanhar aquele denodado esforço, pagando para ver em que resultava.
E numa dessas idas e vindas do passarinho, ele já cansado, extenuado, com as penas molhadas de suor, já não raciocinando direito, com o ar da floresta saturado, impregnado de gás carbônico, ele caiu em uma das labaredas e sumiu.
Alguns animais ficaram torcendo para que ele conseguisse sair como uma fênix dali. Mas ele não saiu.
Uns viram um pássaro de fogo alçando ao céu e desaparecer.
Outros riram da besteira. Teve quem lamentasse tamanha estupidez.
E houve aqueles que nada disseram, saindo dali indiferentes.
E o incêndio fez o estrago que todo incêndio grande faz.
E como nada terreno é eterno, o incêndio acabou!
E o passarinho?
Ele, simplesmente, desapareceu.
Às vezes todo esforço de nada serve e ninguém valoriza a tentativa de alguém tentar evitar o pior.
Belém, 15/4/2002