ERA UMA VEZ UMA PROFESSORA...

Esses dias estava fuçando numa dessas gavetas que ficam esquecidas lá naquele quartinho da bagunça. Não gente, não tô falando do lugar onde a gente dorme. Refiro-me aquele onde fica tudo o que deveria ter sido jogado fora, mas por um motivo ou outro, nunca foi. Em casa esse quarto fica cheio até a tampa. Sorteei uma das organizadas gavetas e me deparei com um caderno ainda do ensino fundamental. No cabeçalho dizia: E.E.P.G Antonio Alves da Costa – Eder Isaque Tofanelli Romeira – Mendonça-SP. Um pouco mais abaixo, um nome que jamais, acho que nem com Alzheimer me esquecerei: Professora Sônia.

Realmente a primeira é inesquecível. Virei a página e por um relapso de tempo consegui ouvir: “Eder Isaque”. Era assim que me chamava. Numa voz embargada com choro e com um nó na garganta, fiz questão de responder: presente professora.

Passei horas virando e revirando a página e descobri que minha letra quase não melhorou. Ainda hoje quando escrevo, só Deus e eu a entendemos, depois de algum tempo, somente Deus. Temo que ela fique feia até quando digito. Na última folha, um recado: “está escrevendo bem, mas precisa melhorar a letra”. Acho que foi um de seus poucos pedidos que não atendi.

No meio do caderno há duas folhas repletas de números que contam de zero a cem. Numa passada de olho vi que na contagem pulava do número 55 para o 66. Seria uma profecia de que teria dificuldades com números? Talvez seja por isso que fechei com um macérrimo 6 a única matéria da faculdade relacionada a número. Vou escrever ‘estatística’ duas vezes para gravar bem: Estatística, estatística e estatística! O que foi? Escrevi três vezes? Obrigado, vou corrigir. Voltando ao caderno, cheguei numa folha em que havia um desenho, até agora não consegui decifrar o que é. Gente, desculpe-me, esqueci de dizer que também não sei desenhar. Mesmo assim estava escrito: - ficou lindo. Ah professora, se soubesse o quanto esse elogio me fez bem! Talvez sem ele não teria escrito esta crônica.

Depois disso fechei o caderno e tive duas certezas: melhorar a letra e aprender matemática. Na faculdade grandes mestres dão continuidade ao que a professora Sônia começou. Hoje abro meu caderno e não vejo mais aquele almejado ‘Parabéns’ no canto da folha, mas sou agraciado de maneira diferente: “é muito bom aprender história contando a nossa história”, escreveu-me um professor ao ler minha primeira crônica que falava sobre minha infância. Talvez ele nem se lembre disso. Mas diferentemente da matemática, minha memória é excelente. Para esses transformadores de sonhos em realidade, aqui está minha humilde homenagem, mesmo não sendo o dia dos professores.

Eder Tofanelli
Enviado por Eder Tofanelli em 06/01/2013
Reeditado em 15/05/2014
Código do texto: T4070264
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