Da zona de conforto para a música

Sair da sua zona de conforto pode ser algo bem difícil. Você está acostumado com sua rotina, sem mudanças, sem precisar alterar as coisas. Porém você gosta muito de algo e, quando surge uma oportunidade, quer fazer isso. Você fica animado, quer dar seu melhor, mas daí chega o dia disso, e o que ocorre?

Isso aconteceu comigo. Vou relatar brevemente como foi. Há meses, fui convidado para participar de um recital musical em minha cidade, que ocorre todo dezembro. Animei-me com a idéia. Dois alunos iriam tocar (um violão e outra piano), e eu cantaria. Beleza. Ensaiamos, divertimo-nos, ficou tudo certo. E eis que chegou o dia.

Durante a tarde, houve o ensaio geral. Mais uma vez, tudo certo. Mas uma coisa é ver o auditório vazio enquanto você ensaia. À noite, ele estava cheio. Chegando ao local, o nervosismo vai aumentando. Você começa a pensar: “O que estou fazendo aqui? Dá para desistir ainda?”

Você senta no auditório, vê as pessoas chegarem, nota um conhecido aqui, outro ali, muitos outros lá, etc. Enfim, o evento começa, e você vai eliminando as apresentações que vão ocorrendo. Algo tipo: “Logo mais, sou eu; logo mais, sou eu”. E então, vem a música antes da sua. Você sabe que, daqui a instantes, precisará entrar em cena. E o que faz?

Bom, vi os nomes no telão (Allan, Gabriela e Márnei), tive de levantar, descer as escadas e encarar aquele público. O que eles pensavam? Será que era “O que esse idiota faz aqui?” Sei lá. Você se posiciona no palco, espera a pianista sentar, o violonista ligar os cabos e dá um sinal para que tudo comece. Isso, definitivamente, não é uma zona de conforto.

A primeira coisa: você esquece a letra. Melhor: você lembra o primeiro verso, mas não sabe os demais. E agora? Mas, à medida que canta, a letra vem à cabeça de novo. Segunda: você olha para todos na platéia para fingir que tem postura de palco e que está confortável ali. Terceira coisa: sua boca seca totalmente. Quarta: seu coração parece sair pela boca, e você crê que não terá mais fôlego para chegar ao fim da música.

Mas...

O término da canção se aproxima, e você preparou aquele “floreio”, aquelas notas diferentes para impressionar o público e, miraculosamente, elas dão certo. Você faz um final “bonitinho”, tira o microfone de perto da boca e pronto: os aplausos vêm. O colega do violão sorri, a do piano também, e você pensa: “Venci, não estou na zona de conforto e saí-me bem”.

Concluindo: é bom sair da zona de conforto às vezes, pois você percebe que tem forças que achava não ter. Mas só às vezes, creio eu...