Palavra
Palavra
Atrás da palavra há uma ideia e por trás de tudo há uma intenção. Entre o pensamento e a palavra há uma distância infinita, uma perturbação que pode distorcer a intenção inicial. E qual seria a intenção?
O erro é querer encontrar no texto o autor, a buscar características do próprio e julgá-lo segundo a palavra que passou a ser uma ação no papel, mas, que para muitos passa a ser um documento acusatório.
O que o autor quis dizer em seu texto jamais se saberá! A palavra é livre, ela tem plena autonomia e a sua liberdade não pode ser presa apenas em um conceito. Mas o que é a palavra? A palavra é um incômodo! Aqueles que a têm e sabe usá-la, catá-la, provocará perturbações. A palavra não pertence ao seu dono, não pertence a quem lê, ela é a senhora de sua ação e de seus atos.
Palavras nunca serão em vão! Palavras são para incomodar! Palavras é liberdade! O mundo do qual ela veio é muito perigoso. Visitá-lo, sem que ela o convide causará desconforto, as portas estarão sempre abertas, mas, ela só será anfitriã para quem sabe cativá-la. Respeitar a palavra é não condená-la, não aprisioná-la em seu autor e nem fazê-la submissa a quem a escreveu. Nem tudo que foi dito ou escrito foi totalmente percebido – noesis e noema –, portanto, definição única, interpretação definitiva, tudo isso é fechar discurso.
Toda palavra tem uma intenção, tem a busca por um resultado, porém, só cabe é caberá a condenação a ela e não ao autor que a propagou. Aqueles que buscam conhecer através da obra o seu dono poderão cair em conceitos fabricados e desse jeito fragmentar a personalidade de quem a propaga na busca de um resultado viciado.
A palavra é doce, mas também é bruta, e, muitas vezes, ela perturba quem quer entendê-la. O erro, o maior erro, é catar algumas frases e fazer análise, não da obra, mas de quem a ecoou.
Toda palavra é viva, tem um corpo e um propósito, mas jamais terá apenas um sentido. Casar autor e palavra e buscar apenas um sentido, é “surpeficializar” as entrelinhas para conceituar o pragmatismo que procura subjugar a intenção por trás de tudo.
Mário Paternostro