Não são cegos, mas não exergam

Uma coisa é certa: decidimos primeiramente comer ou beber com os olhos e não com a boca. Os olhos são as lâmpadas da alma como diz as escrituras. O meu olhar para uma determinada coisa, é o meu real interesse, são os pedidos aclamados do meu ser. Acendem os desejos outrora escuros. Somos seres desejantes, portanto, temos olhos famintos. Queremos comer o mundo, as pessoas, o espetacular, o fenomenal, as riquezas, os poderes, a glória. Diante da extrema satisfação pessoal em ganhar tudo à partir dos olhos, perdemos a nossa visão quando o “imperceptível” não é notado. Quem é doente do olhar não consegue enxergar as belezas nos cantos mais ínfimos da existência.

Acredito que a beleza não está escondida, mas é nós que estamos enfeitiçados ao ponto de não prestarmos atenção no que é simples e profundo. Estamos tão ligados à grandeza, que a pequeneza é rejeitada, desperdiçada. Olhos sarados são olhos sem pressa, necessitam pousar “fora” do tempo para experimentar o banal, o marginal, o insignificante.

Entretanto, você já parou pra ver a tamanha dimensão de uma criança sorrindo? Quero me encontrar nesta criança. Já percebeu a grandeza do colo da mãe segurando afavelmente a criança amada? Gesto que gera sentimentos inexplicáveis, misteriosos. Notou como é realizada uma amizade verdadeira na base do amor? Desdenho amizades funcionais e suas formulas para resultados. Parou para ouvir o canto do pássaro? Irás descobrir que são os melhores cantores do mundo. Não precisam de aulas de canto. E os jardins? Percebeu seus hospedes? Para ver as visitas, é preciso paciência.

Que os nossos olhos sejam tomados por essas luzes que clareiam o corpo e a alma. Que o assombro pela beleza seja incurável em nossas vidas. Não quero ser cego, mas se eu me tornar, seja para os lados nefastos desta vida.