Apenas uma vontade de pensar!
Apenas uma vontade de pensar!
Vivemos em tempos palpáveis, tempos do ver para crer, e, talvez, essa “certeza” nos impossibilite de enxergar o que está atrás do que pensamos. Estamos carregados de ideias e desejos viciados, de uma vontade de perceber tudo à volta, mas, estamos fechados para compreender o que não conseguimos perceber. Pensamos e perturbamos a engrenagem da vida; pensamos e confundimos a ordem; pensamos e quebramos regras, mas ainda não estamos preparados para perceber o quanto não percebemos.
Não percebemos que nossos pensamentos estão presos a um mundo estagnado, pronto e acabado, a desejos coletivos e repetitivos. Tudo então passa a ser massificado e até mesmo as divagações caminham para o mesmo lugar, o mesmo abrigo. Pensar então é uma liberdade com grades e cadeados sem chaves! O mundo nos impõe pensamentos e refletimos apenas o que é comum para todos, não nos permitimos chegar à plenitude da percepção, pois nos moldamos e nos podamos para manter o cosmos no lugar.
Percebe-se então que nem tudo é percebido e o pouco não consegue romper as barreiras dos ditames. Pensar passou a ser irracional, a ser apenas lapso de humanização, portanto, para existir, necessariamente, não requer tal façanha. O ser humano perdeu a individualidade e se perdeu também no coletivo, deixou de pensar e perceber, para responder apenas, ou tentar responder com citações ecoadas. Pensar passou a ser paliativo para uma liberdade utópica.
Lemos apenas as linhas e as entrelinhas estão borradas às percepções. Pensamos que pensamos, mas na verdade, apenas respondemos. O homem, a duras penas está descobrindo que é um eterno prisioneiro, que o mundo é um cárcere e que tudo caminha na busca de cadeados.
O pensamento responde, mas não pergunta. Responde sempre deixando lacunas, pois as respostas, às vezes, são mais vazias que as perguntas sem elas. Pensar é perguntar e questionar, é sair dos liames do coletivo e buscar um tudo ou um nada, e assim, sair de um pensamento viciado, para as percepções que ainda não foram percebidas.
Mário Paternostro