PRORROGAÇÃO DO FIM DO MUNDO

Na falta de assunto, já que estamos todos ainda com a cabeça cheia de retrospectivas devidamente acondicionadas em banho-maria etílico, vou com essa, o assunto que tomou conta do mundo todo até duas semanas atrás: que tal uma prorrogação do fim mundo?! Inauguro essa sugestão.

Pois teve gente que levou isso a sério - é sério!, tem gente que acredita nessas e outras babaquices - e acho justo que a comédia continue, para termos o que conversar (ou arrazoar), como diria meu amigo Polaco. Seja numa fila de pão, de banco, de posto de saúde ou de combustível.

Então, nada melhor que pegar essas semanas que antecedem o carnaval pensando (melhor, "despensando"), sobre essas pequenas cricas residuais do ano que foi embora, essas coisicas que não provocam faísca alguma nos neurônios, mas dão combustão pra gente ir tocando os dias, falando mal do governo enquanto "eles", definitivamente, fazem mal ao bolso da gente. Enquanto a gente descansa (ou julga que), eles NÃO descansam nunca. Essa uma que a Maria Dumário repete sempre e que concordo: a gente tem um certo prazer de falar que esses "bichos sugadores" que têm em todo lugar mas principalmente num bosque de cimento chamado Brasília, que eles são todos uns preguiçosos, uns vagabundos, uns malandros. Eu, como o Polaco, como a Maria, desconcordo: acho que esses bichos não descansam nunca, não curtem natal ou carnaval, vivem como traças num eterno roer fundos de cofres (e de pensões), com a mesma desenvoltura com que degustam comida italiana, principalmente pizza.

Aliás, lembrei de outra coisa agora: em se falando de previsões, tem coisas que o populacho não erra nunca: o ano acaba, na mosca, em 31 de dezembro. Bingo! E, pra começar o novo, precisamos enterrar o velho, no esquecimento forçado sob uma cascata de cerveja barata e cidras, com as quais brindamos aqueles 365 dias que vão chegar. Perguntinha: quando se brinda, estamos evocando o futuro mesmo ou estamos nostalgiando o passado? Nunca soube essa resposta. Antes achava que fosse ao futuro, mas nunca vi na Fórmula 1 os corredores abrirem o champanhe antes da corrida. Então, fico convencido de que champanhe cultua o passado, Cereser é que é para o porvir. Se alguém tiver uma idéia, solução, dedução ou resposta definitiva mesmo, compareça aqui e comente.

Como nessa época (findiano), sobram desculpas, vontade e uma preguicite aguda que faz todo mundo se sentir meio funcionário público, então, vá lá!, vamos prorrogando o fim do mundo até o carnaval, e depois até a páscoa, e então até o primeiro de maio; daí pulamos para as férias de julho, depois direto para os feriados de novembro, e até o natal! É isso aí, postergando, protelando, empurrando com a barriga cada vez mais rotunda de chope, vamos dando uma banana para a falência do mundo, enquanto falimos, nas eternas prorrogações.

Mas eu é que não vou prorrogar essa conversa, pois bateu uma preguiça!...