Testes
Elas voltaram! Armaram as mesas, as cadeiras... canetas, cartões, colas, papéis... As “Voluntárias da Escrita” prepararam durante um tempo para este dia, confeccionando cartões natalinos.
“Olha! Ana, eu prometi para mim mesmo, que este ano não vou escrever cartões para os bêbados. Em 2011 passei poucas e boas com eles. Cruzes!”
"Promessa!? Olho para Raquel e Ana sem entender a tal promessa!"
O senhor senta em frente à Raquel, percebo o alto teor de álcool correndo pelas suas veias, o embaçando, embaralhando suas idéias. Raquel solícita, nada percebe! Abre um cartão.
“Para quem o senhor vai mandar o cartão!”
O homem a olha. Balança para frente e para trás. Mareado, como navio em alto mar. Balbucia uma palavra sem sentido. “Aexila”.
“Axila!?”
“Aexila é a minha neta”
“O senhor pode repetir eu não entendi!”
Ele a olha com um olhar de peixe morto e fala. “A senhora sabe ler e escrever!?” Então, fala pausadamente...”A-eeee-xiiiiiiiii laaaaa!”
Raquel olha para Ana e pergunta...
“Você entendeu?!”
Três mulheres esperam impacientes pela minha escrita, divago... tento encontrar palavras para dar sentido aos sentimentos e valores das pessoas que procuram a nossa escrita. Respondo para Raquel olhando para o bêbado.
“Não seria: Ashila!?”
“Muito bem, percebo que a senhora foi á escola!” Olhando para Raquel, ele dispara naquela voz incompreensível para ouvidos menos atentos.
“Ela foi para a escola, e, a senhora estudou até que ano!?”
Minha amiga responde na melhor das intenções. “Faculdade!”
Ele pediu um papel e escreveu em letras garrafais e incompreensíveis para olhos menos atentos: A_ SXII_ IIla.
Enquanto,Raquel escrevia o cartão, outro homem não menos cambaleante parou a sua frente... vendo que ela estava entretida escrevendo, ele, me perguntou, naquela voz de passageiro de navio numa tormenta em alto mar...
“Aqui é qui está fazendo teste de HIV!?”
Não esperou a minha resposta! Foi embora!
Raquel já escrevia o terceiro cartão para o avô da Ashila... O terceiro bêbado... pára, cambaleante a sua frente... Fica empinando o corpo para frente... depois, empina o corpo para trás... Flexões de fazer inveja ao melhor e mais preparado atleta contorcionista! Desistiu! Veio se empinar bem a minha frente... Olhei para ele e "bebedamente", ele me falou:
“Aqui é que faz teste para diabetis?!”
A funcionária do terminal para quem eu escrevia o cartão, esclareceu! "Eles estão acostumados a entrar nas filas do pessoal da saúde para fazer qualquer tipo de teste!”