"Maturidade....será?"

Depois de certa idade fui tomada por uma maturidade que por hora chega ser assustadora, causando-me grande inquietação. Sentimentos que chegavam ser ofegantes em meu íntimo transformaram - se em cautelosos questionamentos tipo “isso me convêm?”. Uma paz interior desmedida e com certa estranheza inunda o meu ser e me leva a pensar “necessito de tamanha serenidade?” Sei que a falta de algo, o desejo de realizar um sonho que antes me atormentava foi substituído pela certeza de que no momento oportuno irá acontecer. Será a idade vivida e experienciada e os percalços vencidos causadores da grandeza desse conformismo tão positivista? Será a crença em um Deus tão grande que tudo fará a meu favor? Será os amigos verdadeiros e poucos que ainda me dão suporte para caminhar e prosseguir sem desistir? Será o amor incondicional por pessoas a quem me foi atribuído a simples missão de amar? Será o conforto de um lar permeado por respeito, conquista e perdão constante? Será a complexidade da matemática que se torna simples ao aprender dividir as dores, somar as alegrias e multiplicar as benignidades? Será maturidade reconhecer que não posso ter tudo e todas as pessoas que amo ao meu lado, mas tenho que ter a nobreza de amar aquelas que me fazem bem e que foi permitido estar junto a mim? Quantos questionamentos! Quantas incertezas! Mas quantas certezas também! Reluto em colocar no papel tantas singularidades, mas as palavras vivem borbulhando dentro de mim e o desejo de jogá-las ao vento é incontrolável. Não escrevo o que preciso escrever de fato, mas anseio escrever palavras soltas e dilaceradas em minhas memórias. Vivo num constante processo de ressignificação onde cada suspiro vem permeado de novos significados. Não estou mais a procurar respostas em meio a tantos questionamentos, simplesmente me contento em viver o hoje, deixar de lado as lembranças que me aprisionavam ao passado. Hoje me contento em valorizar os relacionamentos com pessoas que me amam verdadeiramente sem exigir que eu seja diferente, descarto aquelas que me julgam somente pelo meu pecado ser diferente do delas e suporto situações das quais não tenho poder algum para modificar. Não quero junto a mim ninguém que se ache perfeito, isso me incomoda, pois penso que tais pessoas que não assumem suas fraquezas e erros correm sérios riscos de serem superficiais e arrogantes demais para eu suportar. Eu não teria tanta tolerância! Enfim, sofro menos e me satisfaço na minha essência, vou buscando me entender e isso é um grande dilema interior do qual ainda não dei conta e não me incomodo se os outros não conseguem, afinal, está aí um enigma de todo humano. Se ler Clarice Lispector me instiga e me inspira tanto, me identifico com seus escritos e trago-os a definição de que podemos ousar falar de nós mesmos, pois ao menos não estaremos cometendo pecado algum contra o próximo. Parafraseando o mestre imortal Paulo Freire rendo-me a colocar um ponto final “as memórias de mim mesmo me levam a entender as tramas das quais fiz parte”. (by sandra ferraz- dezembro 2012)

Sandra Ferraz
Enviado por Sandra Ferraz em 03/01/2013
Código do texto: T4065293
Classificação de conteúdo: seguro