O PESCADOR E SUA SORTE

Os Rios fluviais, além de importantes acidentes geográficos, ainda servem como imprescindivel via de transportes para muitas regiões e de vital importancia socio economica para pequenos municipios brasileiros, onde centenas de famílias deles, ainda, tiram o sustento, quer seja na pesca ou na lavoura, são cenários de inúmeras histórias interessantes. Dentre elas escolhemos uma, que passamos a relatar:

O período era de “vacas magras”, como costuma-se dizer. O Governo do estado, como sempre, pouco se “lixando” pra estas bandas esquecidas. O governo municipal “capengava” com mais uma gestão fraca sem criatividade e sem dar melhores condições de vida à população. A paralisia era total. A saída, mesmo, estava na aventura em garimpos de ouro ou nas correntes d’água do velho rio. Acrescente-se que na época não existiam projetos sociais como: aposentadoria rural, Bolsa Família, Vale este ou Vale aquele, medidas eleitoreiras que tanto serve hoje para enganar a fome dos mais necessitados. A coisa era difícil, mesmo.

Jeová, nossso protagonista neste episódio, morador da periferia, egresso da zona rural, não tinha ofício definido, vivia de pequenos afazeres, cansado sem disposição para duras empreitadas, apelou para uma alternativa mais amena, a seu ver. Muniu-se da velha tarrafa de pesca, apetrecho utilíssimos em situações precárias do lugar. Se enfiou num velho calção e desceu a ladeira, acompanhado de Deusdete, um dos filhos e botou a canoa e o remo, n’água.

Lance vai, lance vem, e nada de peixe. Passou de meio dia e já descambava para o final de tarde e a canoa, magra, com apenas dois piaus, meia dúzia de sardinhas, e só. Outros pescadores que por ali arriscavam, viviam a mesma situação, sem pegar quase nada.

Crente fervoroso, Jeová era daqueles evangélicos que clamava as bênçãos Divinas à todo instante, por qualquer motivo e não costumava desistir facil de seus intentos. Mudou a canoa de curso várias vezes e prometeu a si mesmo que iria dar os últimos lances, já estava desistindo da jornada.

Eis que, como num passe de mágica, a tarrafa do crente emergiu repleta de peixe. Repetiu duas e mais vezes, todas saindo da água, completamente lotada de pescado. Era incrível a repentina performance e a quantidade de peixes que se encontrava na canoa. Piau era o que mais surgia nas malhas, seguidos de mandis, corrós e até piranhas, faziam parte daquela abundância.

O religioso pescador, exortou:

- Meu Deus isto é milagre, só pode ser milagre.

- Ainda, pouco não pegava um, sequer. Vejam agora a quantidade.

Pescadores que se encontravam nos arredores, alguns deles ocasionais, se aproximaram do local de pesca do sortudo, para melhor se inteirar do que viam, e até arriscar um bafejo de sorte grande, igual a do colega exultante.

- O Senhor me ouviu, tenho certeza. Gloria a Deus, aleluia, irmão. Exortava o eufórico Jeová.

Os que se encontravam no entorno do local, observavam a cena, boquiabertos, quando mais boquiabertos ficaram ao ver o que continha na última tarrafada que o pescador acabara de retirar das águas.

O susto foi tamanho e a perplexidade foi fulminante atingindo a todos, inapelavelmente.

Uma fedentina horrível alastrou-se de imediato no local, e ao verificar o objeto estranho capturado pela tarrafa, encontraram a carcaça de uma cadela morta, afogada há dias.

O cenário muda mais uma vez radicalmente a feição, entre o público e o protagonista. Constrangido e decepcionado, Jeová devolve às águas a dádiva que imaginou ser sua, sob os olhares críticos e sarcasmo dos curiosos que assistiam aquela tragicomédia.

Contudo, engana-se quem pensar que os dissabores do frustrado pescador, encerrou-se naquela ocasião. Jeová teve que desistir muito cedo da profissão que acabara de abraçar. É que a partir de então, passaram a ser excomungados pelos consumidores, todos os cambos de pescados que tivessem como vendedor, alguém ligado ao crente pescador de cadaver, devolvido pelo refluxo do rio.

Josafá Bonfim, São Luís/MA, 16 de abril de 2011

josafá bonfim
Enviado por josafá bonfim em 03/01/2013
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