Minhas emoções flutuam como nuvens




 
            Elas passam por minha mente, ora lentamente, ora rápidas como o vento em dia de chuva.  Nuvens róseas, mais raramente. Quase sempre cinzentas e muitas vezes negras, com estrondos que chegam a me assustar. Lá vem a emoção do meu primeiro medo, quando me perdi de minha mãe e senti como se tivesse perdido minha identidade, aos quatro anos de idade; a emoção do meu primeiro choro público, em  pleno maracanã, quando o Flamengo foi vítima de uma injustiça do árbitro; as emoções das minhas expulsões das salas de aula e sendo sacudido pelo Pe. Almir,dizendo: “fica quieto, meu amiguinho”; a grande emoção da minha dor de barriga na Igreja, sujando toda a minha calça, depois de ter comido, no dia anterior, mais de 20 pêssegos; a emoção de aprender a dar o laço do meu sapato, mas um laço especial, pois até hoje não aprendi a dar o laço tradicional;  a emoção da minha primeira compra de um terno, todo envergonhado diante do vendedor, lá na rua Sete de Setembro, no Rio de Janeiro; a grande emoção no dia do nascimento de minha primeira filha Danuza, me senti alegre e estranho ao mesmo tempo, pensando: como pude fazer um ser humano?;  a emoção de passar num concurso público, depois de tanta angústia, imaginando um  futuro difícil ; a emoção no dia em que meu pai morreu, que me parecia imortal; a grande emoção quando  meu pai me deu a notícia de que meu melhor amigo havia morrido de acidente. Exclamei de pronto: - essa vida não vale nada! E as lágrimas simplesmente saltaram de meus olhos, diante da morte prematura de um jovem de apenas 22 anos de idade, tendo meu pai me repreendido, ao lembrar-me  que a vida valia a pena, sim!
            Claro, há muito mais emoções, boas e ruins. As que mencionei  foram as que passaram agora por minha cabeça.  E as de hoje não foram as piores... Em geral, elas surgem com mais força nos momentos de crise existencial, em épocas de fim e início de ano, quando parece que somos forçados a fazer inventário dos nossos acontecimentos.  É apenas uma pequena janela que se abre e sentimos novamente antigas emoções. O diabo é que antigas emoções estão nos informando que já atingimos a chamada zona de sombra da vida e que se instala a partir dos sessenta anos. Nada demais com as emoções, que vão nos ensinando o equilíbrio para viver. Um equilíbrio sempre provisório e precário. As emoções são como as ondas do mar explodindo em nosso corpo e nossa alma e são elas que vão nos ajudar a ter a sabedoria de viver e encontrar a necessária coragem para não submergir diante das enormes ondas de  adversidades, que atingem a todos nós.
            Talvez a criação do ano de 365 dias sirva para mantermos a esperança de uma vida que se renova continuamente, apesar dos dias serem  os velhos dias de sempre. Sem perceber nossa ansiedade, diante de nossas vidas individuais que se extinguem, procuramos manter a chama da vida em nós, desejando de novo um feliz Ano Novo.