A geração intermediária
Sinto que acompanhados daqueles que nasceram nos anos cinqüenta , todos os que somos da geração dos anos sessenta e setenta formamos algo assim como uma turma “intermediária” , provavelmente a última que viveu experiências de um mundo anterior à explosão tecnológica e que literalmente “enterrou” conceitos em velocidade alucinante.
Depois dos anos setenta creio que desapareceram as escolas de datilografia e a antiga máquina de escrever virou peça de museu . Em poucos anos os chamados microcomputadores foram encolhendo de tamanho e hoje já é possível conciliar o próprio ordenador com um simples telefone celular ou “telemóvel” como dizem nossos irmãos lusitanos.
Somos da geração que quando desejava beber um refrigerante tinha de se sentar para tomar a bebida e devolver a garrafa ao dono do bar . Quem não se lembra da chegada das primeiras latinhas, mas que eram bem impeditivas, porque o preço era muito superior à garrafinha de vidro. Depois vieram as garrafas plásticas e todo o lixo deixado como “herança maldita” , cuja história conhecemos muito bem porque nos é contemporânea...
Nós da turma intermediária dávamos um valor inigualável às tardes de domingo, porque era dia de “matinê” nos cinemas , com as enormes salas superlotadas desde as treze horas até o final da tarde . Eram três filmes em sequencia . Um fartão de telona . Depois disso todas as cidades pequenas foram enterrando suas salas de cinema, algumas só recuperando-as com a chegada dos shopings centers, mas isso só em cidades medianas ou grandes .
Da geração do orelhão e das cabines telefônicas – dessa geração somos nós – e temos a rara possibilidade de conviver agora com a geração de nossos filhos e a comunicação móvel instantânea através dos modernos aparelhos de celular e a possibilidade de acesso às redes sociais e até mesmo ao manancial de informações da internet . Através dos sítios de pesquisa carrega-se uma biblioteca digital no bolso .
Sobretudo, os que transitam nessa faixa do tempo e que tiveram o destino de viver na fronteira do Brasil com o Uruguai vivemos ainda a época dos velhos calhambeques – carros muito antigos – muitos com arranque à manivela . Aliás, falando em manivela, lembro dos telefones pretos com uma manivela pequena que chamava para a telefonista , isso antes da chegada da “discagem direta” . Coisa difícil de imaginar não é mesmo ...
Talvez ao manifestar um pouco disso tudo, esteja dando minha contribuição para os mais jovens, para que entendam o quanto o mundo mudou em tão pouco tempo . Talvez a ponta do iceberg de uma revolução tecnológica . Provavelmente, o desafio de entender esse processo seja para as novas gerações tão desafiador quanto tem sido para nossa “geração intermediária” a adaptação a todas essas novidades .