O GATINHO ABANDONADO
Ysolda Cabral

  
 
Na ponte o gatinho dentro da “casa”  de papelão se protegia da chuva.  

Enterneceu-me a fragilidade do abrigo a ponto de me fazer perder a fome.

 
Como posso ser assim? Será que não mudo nunca?
 
- Preciso mudar é  de caminho...
 
Esse gatinho é da família que, também, mora sobre a ponte, ou pontilhão, o qual
não passa sobre rio; passa sobre um canal fétido, feio, sujo, imundo e que fica localizado, a céu aberto, por toda a extensão da mais importante avenida do Recife, a Avenida Agamenon Magalhães.  
 
- Por onde andava a família do gatinho a encolher-se da chuva, sobre a ponte?
 
Talvez no posto de gasolina da esquina... Ou o governo, finalmente, a encaminhou para algum conjunto habitacional?
 
- Impossível! Ela não abandonaria o gatinho, em hipótese alguma.
 
Com a chuva caindo sem contemplação, continuei no caminho que preciso mudar, pensando por onde andaria a família do gatinho esquecido sobre a ponte.
 
- Será que se perdeu na noite de Natal?