Tio Ramiro e o Sací
Tia Ritinha me contava bem baixinho,
(nas noites que a asma aprisionava seu peito)
que tio Ramiro brigava (de ficar lerdo),
com um sací Pererê.
Costumava me dizer num sussurro,
que ele namorava com uma Sací,
Que habitava um tonel vazio de aguardente,
na fábrica da Provisória.
O fato é que tio Ramiro sempre estava rodeado de Sacís.
Se ele ficava raivoso pela incomodação,
soltava um grito medonho. (um dia eu ví).
Era um grito tão medonho, que era preciso conjugar
a boca, o nariz e as duas orelhas,
Inda invocar a raiva e uma oração que só ele sabia!
E eles corriam fazendo redemoinhos no vento!
Certa feita me lembro (criança é afeiçoada a lembranças),
eles fizeram as pazes.
A Sací tinha encontrado um Sací solteiro,
e foi rodopiar mundo!
Mágoa desfeita, amizade refeita:
Foram comemorar debaixo das moitas de bambú de dona Coleta.
Foi quando eu ví no entardecer
detráz da moita do capim cidreira
com os meus olhos agraciados,
Tio Ramiro cantando uma canção misteriosa,
em linguagem desconhecida mais ainda.
Transfigurado, parecia um deus de áfrica
com cabelos cheios de prata, e barba côr de lírios.
Seus olhos brilhavam uma expressão não vista de mortais!
E dançou como só um deus dançaria,
prá levar o mal da terra.
Quando se debruçou no chão, de joelhos,
e o olhar abençoado de perdão
O bambuzal se fez em festa,
Cheio de ventos e assovios!
a lua cheia, vistosa
brigando com a cerração
foi colorir todo o bosque
com a tinta do açafrão
( ambrósio bonini )