FOGOS

Nessa passagem de ano assistimos, mais uma vez, à queima de fogos de artifício.

Esse (mau) costume amplamente disseminado na sociedade brasileira, revela um fato sócio-antropológico realmente interessante.

As famílias gastam verdadeiras fortunas (se considerarmos o montante) com os artefatos que irão, simplesmente, queimar.

Temos, por conta disso, o risco desnecessário ao qual são expostas as crianças, pois se no dia-a-dia lhes é negado o manuseio de uma simples caixa de fósforos, nesse período lhes são franqueados rojões de alta potência explosiva, capazes de provocar dolorosas queimaduras temporárias, mas que também podem ter sequelas deformantes terríveis ou mutilações definitivas.

As prefeituras que durante o ano todo (todo ano) negligenciam os serviços essenciais, como saneamento, limpeza, iluminação, creche, educação formal, salários dos profissionais das áreas de educação e saúde, arranjam dinheiro para comprar (possivelmente superfaturadas) toneladas e toneladas dos fogos de artifício que irão iluminar os céus dos municípios por 15 minutos ou mais, numa insossa competição entre as cidades que depois, serão classificadas como detentoras do título de “réveillon mais bonito do mundo”.

A explicação (não justificativa) para tal fato é a força atrativa sobre os milhares de turistas que injetarão rios de dinheiro nas economias locais.

A máxima Juliana – PANEM ET CIRCENSES – se reafirma mais uma vez nessa manobra e controle do povo fútil e despolitizado que continua elegendo os mesmos ladrões da consciência dos eleitores e os recursos do erário público.

Os fogos de artifício despertam na nossa memória o encantamento do fogo ancestral, quando nas cavernas representava a segurança;

a luz guia do farol na noite escura do navegante perdido na imensidão dos mares ou a elevação “espiritual” do fiel na contemplação da fogueira sacrifical.

Todas essas imagens que perderam a importância diante da tecnologia, talvez seja a força que arrasta milhares de pessoas para assistir ao espetáculo, bonito sem dúvida, mas totalmente desnecessário.