Grandes Emoções
Nossas vidas são um manancial de emoções. Coisas que vimos, passamos ou fizemos parte. Acredito que sou um bom observador de tudo o que se passa ao meu redor.
Certa vez, ao passar pelo centro de Campinas, precisamente no Largo da Catedral, observei que uma senhora estava com um garotinho de uns 5 anos e que ele olhava, com os olhos vidrados, dois cavalarianos da P.M., que estavam ali estacionados.
Um dos soldados vendo o interesse do menino, pediu licença à mulher e pegou o menino no colo, e o levou até seu cavalo, que era muito manso, deixando que o garoto passasse a mão no pescoço do animal. Depois levou o menino até aquela senhora que era sua avó.
Ela, então, agradeceu ao soldado com lágrimas nos olhos e lhe disse: “ O que o senhor fez hoje não há o que pague, pois meu neto andava até doente com vontade de tocar num cavalo como esse..”. Ainda enxugando as lágrimas disse: “ Deus lhe pague.”.
Várias pessoas que assistiram aquela cena aplaudiram o soldado.
Um caso quase idêntico aconteceu comigo. Eu estava com a locomotiva engatada, no trem R1, que ia de Campinas a Ribeirão Preto, esperando passageiros que vinham de São Paulo para embarcar no nosso trem, quando notei uma jovem senhora que olhava muito para a locomotiva. Junto a ela estava um garoto de 6 anos, seu filho. Eu perguntei a ela se iria embarcar e ele me respondeu que não e que vinha à estação todos os dias naquele horário, pois seu filho gostava muito de ver as locomotivas.
Como ainda havia um tempo disponível até a partida do trem, convidei-a e ao menino para subirem na locomotiva. Ela estava de calça comprida e me passou o garoto. Depois subiu os degraus da locomotiva.
Coloquei o menino no meu banco e lhe mostrei como o maquinista fazia para conduzir o trem. E o menino, sentado ali no meu banco, parecia outro.
Logo, o meu ajudante me avisou que faltavam 5 minutos para partirmos. Então, a mãe do menino me abraçou com lágrimas nos olhos e me disse: “ Deus lhe pague. Eu tenho vindo aqui há mais de um mês e ninguém teve este gesto que o senhor teve agora. O meu filho vivia sonhando com a possibilidade de entrar numa locomotiva dessas. O que senhor fez irá ficar gravado nele para sempre..”.
Então, com a mulher e o menino já no chão, eu lhe disse: “Não precisa me agradecer. Eu sou o seu garoto há uns 40 anos atrás. Mas não achei ninguém que me convidasse a subir numa locomotiva..”.
No filme Páginas da Vida, de 1952, que era dividido em várias histórias independentes, em uma delas o ator principal era Charles Laughton, que vivia o papel de um velho senhor (Soapy), sem família junto com seu jovem companheiro Horace (vivido por David Wayne). Vendo que o inverno aquele ano seria terrível e que eles estariam sem moradia fixa, pois viviam na rua, resolveram passar o inverno na cadeia cometendo um pequeno delito, pois sabiam que o chefe de polícia de Nova York era muito rigoroso. Bolaram, então, um pequeno golpe para poderem passar um inverno inteiro com cama e comida quentes.
Então, Charles Laughton que era o velho, resolveu chutar um homem que olhava uma vitrine, mas errou o chute e caiu de costas.
Prontamente o homem que seria agredido socorreu-o tentando leva-lo a um pronto socorro, mas o velho não aceitou.
Guardadas as diferenças, certo dia eu esperava o coletivo no mercado municipal, quando um senhor que morava ali na rua veio até mim e me disse: “..De todos os que estão aqui percebi que o senhor poderia me ouvir e me estender a mão neste momento”. Notei que ele não era um daqueles infelizes, que deveria ter uma família e que por alguma ação do destino havia preferido morar nas Ruas.
Ele me disse: “De fato eu preciso de 2 reais para completar o que eu já tenho, para poder comprar um marmitex. Eu reparto todo dia um marmitex com aquele rapaz”, apontando para um moço do outro lado da rua. “Ele é bastante tímido. Quando eu vim para cá ele passava até dois dias sem comer.”. Dei o dinheiro que ele pediu e ele me agradeceu e me disse se eu não iria lhe perguntar por que ele morava na rua.
Então eu lhe disse que sabia das dificuldades de ele levar aquela vida, mas que não poderia intervir na sua escolha. Então ele me disse: ”.. Eu fiz a escolha certa em vir até o senhor, pois à falsidade de um lar preferi a solidariedade dos meus irmãos de rua..”.
Eu o vi mais uma vez, ao longe, mas não mais conversamos.