REVEILLON EM PARIS

Parecia não ser noite e não houvesse penumbra em alguns pontos, era como se os parisienses resolvessem trocar o sol pela lua, as nuvens pelas estrelas, a claridade pela escuridão iluminada artificialmente, pois resolveram a um só tempo despejar-se como água por todos os caminhos, pelas ruas, apesar da chuvinha irritante que não parava de cair. Vinham acompanhadas de suas crianças, parentes idosos, alguns sozinhos, vários casais, em suas mãos as garrafas de champagne, as taças de cristal, ou não, os sorrisos esbugalhados, os abraços carinhosos, as cabeças transbordando ansiedade para ser também testemunha da chegada do novo ano. Vem de metrô, hoje gratuito em quase todas as estações, a pé, de bicicleta, de carro, de ônibus e seguem nas apressadas passadas, ainda sob a garoa, para o Champ de Mars, a Champs Elysées, Montmartre e demais lugares onde se aglomeram para se abraçar, beber champagne, beijar muito e receber 2013. Enamorados, fraternais e emocionados.

O apartamento em que estamos em Paris, por uma feliz coincidência do destino, fica a poucos metros de caminhada da Torre Eiffel, numa rua inteiramente ocupada por lojas, cafeterias, supermercados boulangeries, lanchonetes, farmácias e outras variedades de comércio, por isso é local de movimentação intensa. Ao sairmos, cada um levando seu guarda-chuva aberto, deparamos com o povo indo no sentido da Torre Eiffel. Nos restaurantes, cafeterias e até na sorveteria da Häagen-Dazs - sim, uma sorveteria aberta em plena chuva e sob dez graus positivos, com sensação térmica de quatro - em funcionamento nesse horário superlotavam-se de clientes à espera da passagem do ano. Impressionou-me ver tantas mulheres de mini-saia, salto alto, cabeça descoberta, andando sem dar a menor importância à temperatura, mas decerto muitas delas sentiam o gelo do vento acariciando as partes de seus corpos expostas.

As poças d'agua, o trânsito, o amontoado de gente, tudo se transformava em dificuldade para chegar até a Torre Eiffel, porém o desejo de ver esse monumento nos instigava, nos impulsionava e não somente a nós, as pessoas quase chegavam a correr, as mães alvoroçadas com a chuva e com a pressa, empurravam os carrinhos com seus bebês, parentes amparavam os mais idosos, casais enfrentavam os pingos de chuva trocando beijos e reforçando os abraços, crianças saltitavam e gritavam alegremente, o clima de alegria e exultação dominando a multidão vencia o frio gelado e ninguém reclamava do suave banho que o céu dava à guisa de batismo do ano novo prestes a vir à superfície da vida e mostrar o seu rosto novinho em folha.

Já muita gente chegara ao Campo de Marte e esperava o espocar das champagne, o brilho redobrado das luzes na Torre Eiffel, os sorrisos mais bebês da meia noite. Com nossos guarda-chuvas nos protegendo dos respingos do céu procuramos um lugar adequado para enxergar em sua plenitude a torre, naquele momento girando os holofotes lá de cima sobre Paris e também pronta para acender outras centenas de lâmpadas piscantes para receber e abraçar 2013. A polícia montada circulava entre as pessoas, máquinas fotográficas disparavam seus flashs, enamorados como nós trocavam juras de amor aos beijos e demorados envolver de braços e corpos, vibrávamos por estar vivendo um reveillon diferente, apaixonante, lindo, abençoado, numa capital européia onde todas as pessoas gostariam de estar, Paris, essa cidade-sonho símbolo do romantismo, da cultura, do amor e do cosmopolismo.

Faltando um minuto para meia noite de 31 de dezembro de 2012, eu e Ana nos abraçamos mais uma vez, com força, muito amor, arrebatados pela emoção, lágrimas descendo vagarosamente por nossas faces, afinal de contas vivíamos a realidade dum sonho há muito acalentado, estávamos em Paris para ver a passagem de ano, dali a pouco 2013 daria o ar de sua graça, mais luzes se abririam no ar da Torre Eiffel, fogos de artifícios estourariam, haveria gritos frenéticos, milhares de fotos seriam batidas, receberíamos o novo ano numa aura de serenidade e magia, num ar de amor como nunca antes vivéramos.

E assim foi em Paris, no nosso reveillon, nessa passagem de ano velho para o ano novo, num clima de muito sentimento, de cumplicidade em nossos olhares, de beijos ardentes e amorosos que trocamos sem nos importar em ser molhados nessa noite especial, os guarda-chuvas se desfazendo em nossas mãos, das fotos, foram tantas, e das bençãos oriundas de Deus por nos conceder essa dádiva de estarmos ali assistindo à queima de fogos em frente à Torre Eiffel e vendo 2013 alvorecer diante de nossos olhos na Cidade-Luz.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 01/01/2013
Código do texto: T4061992
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