Vovó Joana

Maristela. Já ouviu falar dela? Não é nome de gente, é uma pequena cidade do interior paulista, que eu também só conheço de nome. De lá para Sorocaba, migrou a família cheia de esperanças de uma vida melhor. O pai já não existia mais - migrara sozinho para a longinqua cidade da Eternidade. Ao todo eram sete pessoas: mãe e filhos, ela com vinte e sete anos de idade e eles, todos menores de oito anos.

Não seria fácil, evidentemente, mas, a esperança, aquela tal que dizem ser a última a morrer, estava mais viva do que nunca.

Alí, na estação de trens de Sorocaba, ficaram os sete, sem ter onde ficar ou para onde ir, até que uma alma generosa atentou para a situação e resolveu alojá-los e encaminhá-los para aquela almejada estrada da esperança. No início da estrada havia uma fábrica de tecidos e foi alí que aquela mãe, viuva, depositou toda a sua disposição e gana para trabalhar, sustentar e dar uma vida, no mínimo, digna, àqueles guris.

Estilo interiorano, muito acanhada, lá na fábrica, aquela mãe quase nem se dirigia às colegas, de vergonha... Mas, trabalhava. Como trabalhava! Era um "pé de boi".

Na hora da refeição as operárias pegavam as suas marmitas e se alimentavam daquilo que levavam pronto de suas casas. Já a jovem viuva, não. E, se perguntavam a ela por que não trazia sua comida, respondia que não tinha fome. No entanto, após a refeição, a viuva pedia às colegas que reservassem as sobras, pois levaria para o cachorrinho que tinha em sua casa, e isso era feito.

A encarregada daquele setor fabril, mulher tida por todos como impiedosa, muito má mesmo, achava muito estranhas as atitudes da viuva e resolveu averiguar "por fora", já que perguntando a ela, não conseguia respostas satisfatórias às suas perguntas.

Foi assim que, com lágrimas nos olhos e voz embargada, a tal encarregada "tão má", reuniu as suas subordinadas, exceto a viuva, e expôs o que havia descoberto, ou seja: aquela mulher tinha fome sim e seus filhos também, e, não havendo outro meio de sustentar a si e a seus filhos, e ainda, sem coragem de pedir ajuda, dizia que não levava marmita porque não tinha fome. Só que, ao chegar em casa, após o dia de duro trabalho, seus filhos alegres a esperavam e então faziam a única refeição do dia, todos no entorno da mesa, comendo as sobras das marmitas que as colegas haviam dado para que "levasse para o cachorrinho".

Foi então que todos souberam da verdade e se comoveram. E, por iniciativa da "encarregada má", resolveram que esse quadro dramático iria mudar e elas passariam a ajudar aquela mulher até que adquirisse estrutura suficiente para sozinha enfrentar o dia a dia de uma nova vida, numa nova cidade.

E assim conteceu, e valeu à pena tanta solidariedade investida naquela jovem viuva e mãe, que até seus quase oitenta e nove anos vividos, valorizou e agradeceu cada uma das mãos que se estenderam em seu favor e dos seus, então, seis filhos, já que depois, em segunda núpcias, teve outros cinco e adotou mais três, e a todos, ensinou a lição de vida que aprendeu e tão bem aplicou.

Que orgulho fazer parte da primeira geração de netos da Vovó Joana, e mais que isso, que orgulho ter recebido dos meus pais o nome dela para homenageá-la. Saudades!!!

Joana Méri Corrêa Martins
Enviado por Joana Méri Corrêa Martins em 31/12/2012
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